Homenagens marcam 110 anos da autora de “Quarto de Despejo” com ciclo de debates em Nova York e Washington, destacando sua relevância na luta contra o racismo
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Mais de 50 anos após a tradução de seu livro mais famoso para o inglês, a obra de Carolina Maria de Jesus, uma das escritoras mais emblemáticas do Brasil, será resgatada no cenário internacional. No mês de outubro, um ciclo de debates ocorrerá em Nova York e Washington DC, celebrando a vida e obra da autora, conhecida por “Quarto de Despejo”, que retrata a dura realidade das favelas brasileiras.
O evento, batizado de “Carolina – A Escritora do Brasil”, será realizado entre os dias 15 e 17 de outubro, e contará com especialistas, biógrafos e a filha da autora, Vera Eunice. As informação são do colunista Jamil Chade, do Uol.
Primeira mulher negra brasileira a vender um milhão de livros, Carolina de Jesus será homenageada em quatro painéis, que visam recuperar sua importância literária e seu papel como símbolo de resistência. “Nos anos 1960, sua escrita passou a circular nos EUA por causa da tradução do best-seller ‘Quarto de Despejo’. Agora, o objetivo é resgatá-la no plano internacional, de onde ela nunca deveria ter saído”, destacou Tom Farias, biógrafo da escritora.
O evento foi organizado pelo coletivo Mulheres na Escrita, formado por autoras de língua portuguesa radicadas nos Estados Unidos, e conta com o apoio da diplomacia brasileira e de universidades americanas. Para a produtora cultural Suzane Sena, o projeto é uma “reparação histórica, iluminando a memória e as obras de nossa grande escritora que retratou com força e coragem a dura realidade das mulheres periféricas do nosso país durante meados do século 20”.
Biografia e principais obras
Carolina Maria de Jesus nasceu em Sacramento, Minas Gerais, em 1914. De origem humilde, teve acesso à educação formal por apenas dois anos, mas sua paixão pela leitura a acompanhou por toda a vida. Em 1937, mudou-se para São Paulo, onde trabalhou como empregada doméstica e, posteriormente, passou a viver na favela do Canindé, sustentando seus três filhos com o trabalho de catadora de papel.
Foi em meio a essa realidade que Carolina começou a registrar em diários sua visão crítica e poética sobre as condições de vida na favela. Em 1960, com o apoio do jornalista Audálio Dantas, publicou seu primeiro e mais famoso livro, Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada. A obra foi um sucesso imediato e projetou a autora para o cenário literário nacional e internacional, sendo traduzida para 13 idiomas, incluindo o inglês, com o título Child of the Dark.
Ao longo de sua carreira, Carolina lançou outros títulos importantes, como Casa de Alvenaria (1961) e Diário de Bitita (1986), porém, nenhum com o mesmo impacto de sua obra de estreia. A escritora faleceu em 1977, mas seu legado permanece vivo, influenciando gerações de leitores, acadêmicos e ativistas.
Para Tom Farias, a presença de Carolina Maria de Jesus nos Estados Unidos, em um momento de importantes debates sobre racismo e desigualdade, é simbólica. “Ela é a melhor resposta contra a supremacia do racismo, tanto no Brasil quanto nos EUA”, afirmou o biógrafo, ressaltando o papel da escritora na história da literatura mundial e na luta por justiça social.