Carta a Milton Nascimento, de Braz Chediak

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CARTA A MILTON NASCIMENTO

Por  Braz Chediak do ator, roteirista, cineasta e escritor




 

Meu querido Bituca, acabo de ver, pela televisão, que você foi excluído das “personalidades negras importantes” pelo diretor da Fundação Palmares.

Isto me fez pensar: afinal, o que é que Milton fez para “ter sido” importante para tal Fundação?  Um entendedor de música ou entendedor de Ser Humano, responderia:

– Milton Nascimento foi um dos maiores cantores da língua portuguesa de todos os tempos, um compositor extraordinário, um Ser Humano invejável.

“Milton levou o nome do Brasil para todos os países do mundo, combatendo o bom combate contra as ditaduras, as desigualdades raciais e sociais, a fome, a miséria, a traição, a ignorância, a mentira.

“Foi um Paladino da paz, da amizade, do abraço fraterno, do ““amai a seu próximo como a ti mesmo””.

“Milton Nascimento deu sentido e beleza às nossas vidas. Milton foi e é um brasileiro que nos faz orgulhar de sermos brasileiros”.

Mas, como você sabe, meu querido poeta/cantor, o barco às vezes balança, a noite às vezes cobre o azul do céu, do mar, da terra.

E ficamos tristes.

Tristes porque você foi excluído de um lugar que é seu (por alguém que é nada, meu querido Bituca), como também o foram Abdias Nascimento, Elza Soares, Tim Maia, Martinho da Vila, etc., etc.,  e até mesmo Zumbi dos Palmares.

Mas um anjo do bem chega até mim e, com sua voz Trespontana, me sussurra: “o presidente da Fundação, Sérgio Camargo, só será lembrado por sua ignorância, recalque, despeito, inveja. E Bituca será lembrado por seu amor, pela sua beleza, por sua voz, enquanto alguém cantar na face da terra. Enquanto nos ajoelharmos e louvarmos a “Voz de Deus”, porque, como disse Elis, “Se Deus cantasse, seria com a voz de Milton Nascimento!”.

E Deus canta, meu querido Bituca, Canta em todas as coisas livres: no vento, nas folhas das árvores e na relva, no murmurar dos riachos, no coração dos amigos… e no grande lamento brasileiro pelo momento de dor pelo qual passamos.

Milton você foi “excluído” das personalidades da Fundação Zumbi dos Palmares, mas não foi excluído de nós e viverá enquanto vivermos.

E depois que deixarmos a vida sua voz continuará ecoando, em eco, como os cascos dos cavalos com suas rubras ferraduras, como a voz nas estradas, como um amigo guardado do lado esquerdo do peito de todos os seres humanos. Como a música da infância no Cine Ouro Verde.

Como o Grande Bituca. O Grande Milton. O Grande Brasil.

E somos gratos a você por isto.

Com carinho,

Braz Chediak

 

*para Wagner Tiso, meu amigo, e Yassír Chediak, meu filho, pela música.

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