Carta aberta ao Totó

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Por Washington Luiz de Araújo, jornalista  – 

(perdão, ao excelentíssimo senhor magistrado do Supremo Tribunal Federal, José Antonio Dias Toffoli)

Pelo fato de conhecê-lo há algum tempo e de sermos originariamente do mesmo partido político, solicito de antemão a liberdade de chamá-lo de Totó. Sim, sei que hoje o senhor está ocupando a mais alta posição da magistratura nacional, mas sempre o vi como Totó, com a devida vênia.




Toffoli e Dilma
Foto: Roberto Jayme / ASICS / TSE

Totó, o que me leva a escrevinhar estas mal traçadas linhas, independentemente de outros episódios nada alvissareiros que tenho visto o senhor protagonizar, é que eu soube de uma declaração sua ao “Jornal Nacional”, aquele telejornal que me traz à mente o slogan “o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”.

Pois nesse noticioso (sic), o senhor disse que “falar em golpe é uma ofensa às instituições brasileiras”, ressaltando ainda que usar esta palavrinha – “golpe” -prejudica mais ainda a imagem do país no exterior”.

Bom, como eu o conheço de algumas festas em Brasília, ainda quando o senhor, Totó, se fazia pertencente aos quadros do Partido dos Trabalhadores, acho que posso lhe dizer logo, sem rodeios nem eufemismos, que as instituições é que estão prejudicando, neste momento, a imagem do Brasil lá fora.

Toffoli  e GilmarE tem mais, Totó: prejudica mais ainda, aqui dentro do nosso país, a imagem do senhor sempre na retaguarda (com todo o respeito!) do excelentíssimo senhor magistrado do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, a quem só não chamo de Gigi por não ter com ele nenhuma intimidade.

Totó, no dia em que o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva tomou posse, um amigo, ex-deputado estadual por São Paulo, fez questão de me levar ao seu gabinete, quando o hoje vossa excelência tomava posse como subchefe da área de Assuntos Jurídicos da Casa Civil da Presidência da República. E lá fui apresentado a um atarantado rapaz, muito simpático naquele momento. E o meu amigo ex-deputado disse para prestar atenção, pois um dia você, Totó, alcançaria alto cargo público. Profético, o meu amigo. Mas mal sabia sobre o que faria nesta elevada posição. Depois daquele dia, o senhor foi galgando posiçõe s até chegar ao altíssimo cargo atual.

Fico me perguntando, com todo o respeito, o que o levou até essa digníssima posição. Deve ter sido por esta palavra do momento, com a qual muitos se vangloriam ao pronunciá-la de boca cheia e a plenos pulmões: meritocracia. Entendo que o senhor acorde todos os dias com uma palavra na cabeça, “independência”. Mas, independência do quê, exatamente? Das pessoas que aí o colocaram – e somente delas?

Ora, Totó, eu, pelo menos, jamais pensei em tê-lo como uma pessoa que fosse fazer algo ilícito estando nessa posição de Excelentíssimo senhor magistrado Supremo Tribunal Federal, mas também nunca esperei que o senhor fosse negar totalmente o seu passado, no qual, certamente (como ocorre com todos nós) formaram-se grande parte de suas mais importantes convicções. Nunca pensei que aquele subchefe da área de Assuntos Jurídicos da Casa Civil da Presidência da República. pudesse vir a tomar atitudes que o levasse a ser considerado um mero “respaldador” das nada abonadoras ações do senhor Gilmar Mendes.

E não pensei, igualmente, que aquele jovem promissor que defendeu o Partido dos Trabalhadores como advogado se transformaria num algoz do mesmo, inclusive contribuindo para a condenação do hoje inocentado José Genoino.

Mas tudo isso me veio à mente, Totó, quando o senhor se prestou a participar do “Jornal Nacional” para defender o golpe contra a presidenta da República, se fazendo de biombo para que a Rede Globo (o povo não é bobo) acusasse Dilma de difamar o país, ora veja só!, condenando a ida da presidenta à ONU porque, ao que tudo indica, ela irá à Organização das Nações Unidas para dizer (denunciar é a palavra correta!) que no Brasil está em marcha acelerada um óbvio golpe de estado político-midiático-judicial contra a população que votou legitimamente em 2014. A que ponto o senhor chegou, não, Totó? Não haveria espaço aqui para 54 milhões de perplexos ponto s de interrogação.

Esta singela e despretensiosa cartinha foi elaborada apenas para funcionar à guisa de espelho, colocado à sua disposição para que o senhor, Totó, caso queira, veja o que tem feito no seu presente, negando o seu passado e, tristemente, sujando o seu futuro.

Sem mais,

Washington Luiz de Araújo, jornalista, seu ex-correlegionário e seu velho conhecido de Brasília, embora, certamente, não se lembre de mim.

Foto da capa de Lula Marques

 

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