Carta aberta de um professor ao ministro da Educação: não à imbecilização dos jovens

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Por Edmilson Rodrigues da Silva, no Facebook

Caro Ministro da Educação Ricardo Vélez Rodríguez, podemos listar uma quantia enorme de fatos do nosso atual governo que apontam para o fascismo mas vamos nos ater apenas à famigerada carta enviada por Vossa Excelência nesta semana a todas as escolas do país em que intima os estabelecimentos a perfilar os alunos para que eles cantem o hino nacional e leiam, em voz alta, a carta enaltecendo o famigerado slogan da campanha de Bolsonaro: “Brasil acima de tudo, deus acima de todos”.




 

Vamos partir do pressuposto que, apesar de termos muitos questionamentos com relação à pertinência, o hino nacional é o menor dos problemas em mais este episódio deplorável do governo representado por Vossa Excelência. Cantar o hino nacional realmente seria uma perda de tempo, mas é possível considerar plausível num período carente da reconstrução dos verdadeiros símbolos nacionais.

 

Mas não é plausível, de maneira alguma, gravar os alunos cantando e muito menos enviar o vídeo, com um limite de 25 megas, com todos os dados da escola, para o seu ministério. O que fará com o vídeo? O que fará com os dados das escolas? Pra que servirá tantas informações? O que fará com as escolas que não enviarem o vídeo? O que fará? Enfim, há muitos questionamentos que precisam de respostas, mas que sabemos que não as teremos.

 

Menos plausível ainda, aliás, é desmedido e inimaginável, pedir para que alunos de todas as idades, das redes pública e privada, perfilados e em posição de sentido, entoem também o slogan da campanha de Bolsonaro. Isso não é estupidez pura e simples, é também fascismo cristalino. O abominável fascismo que julgávamos extinto. A cara de pau e o mau caratismo de Vossa Excelência não tem limites.

Este absurdo é uma característica do fascismo das mais nocivas às crianças, pois as ensinam a cultuar o líder como um ser superior, como um semideus, como alguém acima do bem e do mal. Causa estragos gigantescos em gerações inteiras que aprendem a achar que o que é ruim é bom e positivo.

 

É exatamente por esse motivo que ainda o senso comum aponta Getúlio Vargas, do estado novo, como um herói nacional, pai dos pobres. E também por esse motivo que temos ainda tantas pessoas que acreditam, quase cegamente, que a ditadura foi benéfica ao povo brasileiro. O culto ao líder, o culto ao estado, o patriotismo que não tem nada a ver com amor à pátria fará muito mais estragos agora do que fez em períodos anteriores da nossa tão surrada história.

 

Vossa Excelência perdeu a noção do país em que vive e que adotou como sua pátria. Esquece-se, convenientemente, de que os brasileiros não são imbecis e completos idiotas acríticos. Acreditou que todos obedeceriam sem questionar e que esse tipo de resolução jamais será cumprida pois temos coisas muito mais importantes para resolver. Aspectos da vida escolar que interferem diretamente na vida dos alunos atendidos em todas as redes, especialmente dos alunos da escola pública.

 

Há ainda escolas, muitas e diversas, espalhadas pelos rincões do Brasil que sequer tem prédios decentes. Centenas e centenas de salas de aula feitas em madeira, com telhados de amianto, sem isolamento térmico, com um calor insuportável no verão brasileiro, mas também com um frio igualmente insuportável no inverno. Há escolas que não tem pátio coberto, que não tem refeitório, que não tem iluminação adequada, que não tem nenhuma tecnologia disponível.

 

Não podemos pensar em cantar hino e slogan sem antes oferecer condições decentes de estudos a essa imensidão de educandos que não tem o estímulo mínimo para frequentar as aulas. É preciso diminuir os índices de reprovação, de evasão. É necessário compreender os motivos da distorção idade/série e buscar soluções pra esse problema. É extremamente necessário oportunizar aos educadores condições dignas de trabalho, de salário, de carreira e não a possibilidade do STF autorizar a diminuição de seus salários.

 

Numa categoria majoritariamente feminina, não é adequado estarmos discutindo o nivelamento da aposentadoria entre homens e mulheres, pois é sabido a desigualdade na distribuição das tantas tarefas diárias. A reforma da previdência, ao que parece, evidencia o grande prejuízo das professoras que perderão sua aposentadoria especial.

 

É extremamente necessário, caro ministro, que impeçamos a tramitação do PL Escola Sem Partido no Congresso Nacional para que professores e alunos possam ter de volta a liberdade de ensinar e aprender, pois esse direito já foi cerceado antes mesmo da lei ter sido aprovada.

 

Enfim, meu caro ministro, há coisas mais importantes a serem debatidas, a serem expostas, refletidas, solucionadas e não é cantando o hino que iremos resolve-las.

 

Brasil acima de tudo, com certeza, mas o Brasil do povo brasileiro e não os delírios de gente que acredita que imbecilizando nossos jovens os problemas estarão resolvidos.

 

Um professor,

 

Edmilson Rodrigues da Silva

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