Carta dos Movimentos do Xingu contra o modelo de mineração brasileiro

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Movimentos sociais, estudantes e trabalhadores se reúnem em Altamira (PA) para se solidarizarem com as vítimas do crime da Vale em Brumadinho (MG) e dizer não ao megaprojeto de mineração de ouro da Belo Sun no Xingu

Por MAB Nacional, compartilhado da Rede Jubileu Sul




Na tarde desta quinta-feira (31), os movimentos populares de Altamira (PA) realizaram uma roda de conversa chamada “Da lama à luta: de Brumadinho à Volta Grande do Xingu”. Na atividade, os participantes expressaram sua indignação diante de mais um crime envolvendo a mineração em Minas Gerais, se solidarizaram com as vítimas e expressaram preocupação com a possível instalação do projeto de extração de outro da canadense Belo Sun na Volta Grande do Xingu.
A atividade contou com a participação do bispo emérito do Xingu, Dom Erwin Kräutler, da procuradora do Ministério Público Federal Thaís Santi, da defensora pública estadual Andréia Barreto, além de representantes do Ministério Público Estadual e Defensoria Pública da União. Movimentos sociais, sindicatos e estudantes da universidade também estiveram presentes. A roda de conversa ocorreu no auditório central da Universidade Federal do Pará.
Leia a seguir a carta aprovada na atividade:
CARTA DOS MOVIMENTOS DO XINGU CONTRA O MODELO DE MINERAÇÃO BRASILEIRO
Nós, defensores e defensoras dos direitos humanos, movimentos e organizações populares da região Transamazônica e Médio Xingu somos solidários às famílias e aos povos tradicionais atingidos pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG) e queremos externar nossa indignação diante das perdas de centenas de vidas humanas, com o despejo de 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minérios espalhados pelo Estado de Minas Gerais, com número de vitimas crescentes, além da morte de mais um rio, Paraopeba, afluente do São Francisco. Trata-se do maior desastre mundial da década envolvendo barragem (cf. Organização Internacional do Trabalho- OIT).
Preocupa-nos imensamente a situação no Brasil, das 723 barragens consideradas de alto risco e alto dano potencial associado, segundo a Agência Nacional das Águas (ANA). Destas, 45 possuem risco iminente de se romperem. No Pará, são ao menos 18 barragens de alto risco[1]. Outras 9 barragens de rejeitos estão previstas nessa região sem que o Estado ou a Secretaria do Meio Ambiente tenham respeitado o direito de Consulta das populações que vivem no interior da floresta.
Preocupa-nos a possível liberação da implementação do Projeto Volta Grande de mineração da empresa canadense Belo Sun na Volta Grande do Xingu, que pretende explorar 150 toneladas de ouro, a maior mina de ouro a céu aberto do país, no município de Senador José Porfírio (Souzel), Pará, e toda a agressão à natureza e o envenenamento do meio ambiente. IBAMA, Ministério Publico Federal (MPF), o Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) e especialistas da Universidade Federal do Pará (UFPA) já condenaram o projeto.
Exigimos do projeto o cancelamento imediato!
Exigimos que sejam descomissionadas todas as barragens que estão em risco de rompimento e que todos os projetos de mineração que seguem o mesmo modelo de extração e de barragem das minas em Mariana e Brumadinho (denominado de “alteamento a montante”), também sejam cancelados!
Reafirmamos nossa luta em defesa da vida e dos povos indígenas, tradicionais e quilombolas e, contra todo projeto de saque de nossas riquezas. Apontamos como saída outros paradigmas de vida, onde seres humanos e a natureza convivam em uma relação de equilíbrio, sem exploração, para garantir o bem-estar das pessoas e os direitos da natureza.
 Altamira, 31 de janeiro de 2019
Assinam esta carta:
Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB); Casa de Educação Popular (CEP); Levante Popular da Juventude; Movimento Xingu Vivo Para Sempre; Movimento Negro; Coletivo de Mulheres Negras; Movimento de Mulheres h de Altamira do Campo e da Cidade; Coletivo de Mulheres do Xingu, Centro Acadêmico da Faculdade de Etnodiversidade; Coletivo Mães do Xingu; Território Livre; Editoras Associadas do Xingu; Sintepp; Frente Brasil Popular; Frente Povo Sem Medo; CIMI, Fórum em Defesa de Altamira, Pastorais Sociais, Comitê REPAM Xingu, REPAM-Brasil, Obras Sociais da Prelazia do Xingu, CPT, Conselho Ribeirinho, Associação dos Moradores da Volta Grande do Xingu, Cooperativa Mista dos Garimpeiros da Ressaca, Sociedade de Defesa dos Direitos humanos – SDDH, Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), Fundação Viver Produzir e Preservar (FVVP), Federação da Agricultura Familiar do Estado do Pará (FAFPA), Conexão Dançar África Brasil, Comissão de Justiça e Paz da Prelazia do Xingu, Associação de Moradores do Bairro Jardim Independente 1(Ambaji)


[1] No rio Trombetas, a população quilombola de Oriximiná convive com 25 barragens da empresa Mineração Rio do Norte, que tem a empresa Vale como sócia e explora Bauxita no interior da Floresta Nacional Saracá-Taquera.

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