E nos ajudou também, pois passamos a vender nossa produção para mais pessoas, aquilo que você faz no trabalho, e que pensou que era só para uns poucos. Às vezes nem a gente consegue comprar o que a gente produz… Mas agora o que a gente faz é para mais gente, que pode comprar mais. É o ideal para um país, um planeta todo? Não, né. Comprar mais não devia ser medida de nada. Mas conforme esse país engatinha rumo a se tornar uma comunidade, é um estágio pelo qual precisamos passar, esse da produção/consumo/riqueza. Não é o fim, é um meio.
Aí, amigo, eu te vejo aí cabisbaixo, até soltando umas postagens raivosas nas redes sociais, porque está frustrado com o resultado da eleição. Entendo que você poderia querer uma equipe diferente no governo, um representante diferente no comando dessa soberania que é nosso país, que quisesse, sei lá, ver mais marcas de iogurte nas prateleiras… Talvez o candidato em quem você votou, que não vingou, fosse facilitar isso. Faltou um certo vigor (risos, espero que entenda a piada). Bem pouquinho.
Você queria ver menos corrupção, e eu também! Isso é possível quando há vontade de qualquer político/partido/sociedade, já que a prática não foi inventada pelo atual governo, o reeleito, nem pela oposição a ele, mas a sociedade, bom… Você já viu corrupção acontecendo, né? Eu também. E a gente precisa combater isso. A gente, no dia a dia, pois a corrupção que ganhou as manchetes que tanto te assustam está, em grande parte, atrás das grades, não está? Tem corrupção de quem você nunca ouviu falar. Mas isso é uma questão de interesses sobre a informação. Te explico outra hora, quando você não estiver vendo TV.
Mas tem uma coisa que me intriga muito: você falar que vem por aí um período terrível, “Deus nos acuda”, “salve-se quem puder”. Amigo, olha pra mim. Olha aqui, nos meus olhos, e me fala, de verdade, com toda a sinceridade, que sua vida foi um horror nos últimos 12 anos. Que sofreu como nunca. Que ficou anos desempregado, que comeu o pão que o diabo amassou. Que precisou comer, Deus o livre, de apenas uma marca de iogurte! Não ouvi? Bom, então você não me falou isso. Que bom!
Porém eu tenho visto você alardear por aí que nosso país está em chamas e que agora queimará, definitivamente, até o fundo do inferno, onde só haverá cinzas, lá sobre aquele mármore. Puxa, que prognóstico terrível, mas… Me conta aí… Tá assim mesmo? Vai ser assim mesmo? Não me pareceu quando vi aquela sua foto no Insta, aquele cebolão bonito no restaurante da moda, ou os relatos da sua última viagem, que registrou no seu iPhone novinho.
Pois então, por que você acharia ruim que outras pessoas desfrutassem dessa mesma vida, amigo, dessas mesmas coisas legais que conseguimos para a gente? Que os filhos dessas pessoas, que não conhecemos, possam estudar numa escola particular bacana, até que, (vamos cobrar do governo, claro!) que a educação pública melhore, de fato? Por que não queremos isso para mais ninguém além de nós? Eu quero isso para todo mundo.
E é por tudo isso que votei como votei. Para que continue sendo permitido a mais pessoas ter um ponto de partida mais digno, para que possamos prosperar juntos, em vez de ver uns prosperarem demais e outros, nada. Eu não queria te ferir, machucar, deixá-lo chateado com o meu voto. Eu queria ver todo mundo do nosso país ficar melhor, você também, seus filhos também.
Mas espero que não continue triste por causa disso. Levante a cabeça! Você… “venceu na vida!” É verdade! Venceu bem vencido. Está vencendo. Mérito de quem? Seu. Crescemos juntos e eu vi o quanto você se esforçou, mas lembro que partimos de um lugar até que confortável. E se em alguns anos pudermos ter mais amigos, além dos que já temos, também partindo desse lugar mais tranquilo, vencendo, pelo mérito deles? Será incrível. E será mérito nosso também.
Um abraço!
P.S.: Aqui vai uma imagem para você sacar que o nosso país é muito mais composto de nuances de cores do que de azul e vermelho.