Compartilhado de Rede Brasil Atual –
Para representantes dos estudantes, medida anunciada visa sufocar entidades financeiramente e esconde interesse do governo pelos dados e monitoramento dos alunos
Hoje, documentos estudantis são emitidos pela UNE e Ubes, sob custo de R$ 35. Parte do valor é revertida para manutenção das entidades. Mas governo pretende sufocar modelo com nova carteirinha
São Paulo – A Carteira Digital do governo de Jair Bolsonaro para estudantes é uma retaliação à luta contra os cortes na educação e ataca a autonomia do movimento, avaliam entidades estudantis sobre a medida anunciada na segunda-feira (25) pelo Ministério da Educação. O MEC lançou um aplicativo de celular por meio do qual será possível emitir a identificação digital estudantil.
A carteira, conquista dos movimentos, é atualmente fornecida pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes). O custo de R$ 35 é em parte revertido para manutenção das entidades. Com a carteira estudantil digital lançada pelo MEC, que será gratuita, as representações dos estudantes temem pelo sufocamento financeiro das entidades e afirmam que a medida é uma tentativa de silenciar a voz de quem luta pela melhoria da educação no Brasil.
“Isso é um movimento do governo no sentido de ameaçar e tentar prejudicar o movimento estudantil, que foi um setor importante nas manifestações de contraposição às políticas do governo, sobretudo na educação, quando tiveram cortes de investimentos e tudo mais”, observa o presidente da UNE, Iago Montalvão, em entrevista ao repórter Cosmo Silva, da Rádio Brasil Atual.
Vice-presidente da Ubes, Débora Nepomuceno também chama atenção para a exposição que os estudantes sofrerão, uma vez que terão de fornecer seus dados ao governo para obter a carteira digital. “Estamos falando de estudantes, menores de idade, extremamente vulneráveis, que terão seus dados à disposição a todo e qualquer momento para qualquer pessoa que tiver interesse de pesquisar e ter acesso a essas informações. Isso é um absurdo”, avalia.
Para Montalvão, diante das declarações de parlamentares e ministros em alusão ao Ato Institucional nº 5 (AI-5), da ditadura civil-militar, essa medida também pode conter o interesse pelo controle e monitoramento dos estudantes por seus dados. A emissão da identidade digital pelo governo não anula a confecção de carteirinhas pela UNE e a Ubes. Os estudantes que optarem pela preservação de seus dados poderão emitir o documento pelas entidades, ao invés de se cadastrarem junto ao Sistema Educacional Brasileiro.