Quem me conhece sabe que eu não dou muita importância à troca de presentes em datas festivas. Eu gosto de celebrar, mas presentes, para mim, são carinhos para se dar e receber em momentos ímpares. quando se tem vontade e condições. Geralmente não me atenho ao conteúdo, mas na intenção. Gosto de presentes que surpreendam.
Por Adriana do Amaral, compartilhado do Construir Resistência
Confesso, no entanto, que não abro mão de presentear as crianças no Natal. Isso, porquê é um momento ímpar de magia, de ludicidade, de esperança e de amar… Todos os anos, nessa época, eu preparo com carinho as sacolinhas de Natal para crianças anônimas, que eu não conheço e nem terei a oportunidade de conhecer.
Quase sempre são listas vindas de uma organização, com nome, tamanho e desejo. Presenteio com uma roupinha completa (inclusive lingerie e calçado), um brinquedo e uma caixa de chocolate. Coloco todas as boas intenções ao doar um pouquinho de alegria a uma criança.
Este ano fiz diferente. Passeando num pequeno centro de compras da cidade do interior deparei-me com uma cadeira vazia e uma caixa cheia. Papai Noel estava ausente, ignorando as centenas de cartinhas depositadas ao seu lado. Isso, na semana do Natal. Peguei uma.
A menina, de 11 anos, queria de presente uma mochila escolar e um estojo grande (para guardar as canetas que ganhou). Mas, ela foi solidária no pedido: disse que a irmãzinha queria uma tiara para enfeitar os cabelos e o irmãozinho precisava de uma roupa. Encantei-me com a intenção da criança, que lembrou dos irmãos mais novos.
“Quero fazer um pequeno pedido para mim e para os meus dois irmãos que amo muito. Primeiramente, estou aqui para agradecer por fazer muitas crianças e família felizes…” Uma cartinha longa, com início, meio e fim e assinada com um coração.
Curiosamente, o Papai Noel seria eu, literalmente. Isso porque o shopping e a prefeitura local não organizaram a entrega dos presentes.
Fui checar o endereço na zona rural. Não localizei. Na cartinha, a criança informava o número do whatsapp da sua mãe. Não tive dúvida, liguei.
A gentileza do outro lado contou-me a história. A filha não havia pedido nada ao Papai Noel, pois se achava grande demais para desejos… Onze anos, mocinha demais: imagino que ajude a mãe nos afazeres domésticos e na lida com os irmãos de 7 e 3 anos!
Como uma amiga, vizinha, recebeu um presente a partir da cartinha a Noel, ela criou coragem e escreveu a sua. Mas, quando foi entregar viu a quantidade de cartas depositadas ela disse: tem muita cartinha lá, mamãe. Acho que muitas crianças não irão receber os presentes. Foi aí quem a mãe me agradeceu por reavivar a esperança da filha.
Como não se emocionar, não é mesmo? Voltei à caixa, li algumas cartas que foram abertas e deixadas lá… Assustou-me a carência das crianças e a simplicidade dos desejos. Presentes de pequeno valor quem valem um sonho!
Peguei mais duas. Outra menina, de nove anos, pediu um jogo de bingo. Ela conta que o pai era pintor e que morreu o ano passado, na #pandemia. A mãe, faxineira, não poderia comprar o presente para ela… O endereço? Um bairro periférico.
“Por favor, Papai Noel, minha mãe não tem condição de comprar para mim”, relatou assinando a carta decorada com Beijo, Abraço e Feliz Natal coloridos.
A outra cartinha era ainda mais simples. O envelope, decorado, feito de papel. No relato, a menina, de oito anos, conta a sua história: quem é, onde mora e o seu desejo. Numa casa de fundos.
“Papai Noel, eu tenho tanta vontade de ter um jogo de cozinha, mas eu não posso. Mas, a minha prima falou que só o Papai Noel que dá. Se o senhor tiver um aí, o senhor me dá um jogo de cozinha? É o de brinquedo, viu?”.
No Natal as distâncias aumentam. Neste Natal pandêmico estamos mais esperançosos quanto a manutenção da vida na guerra contra a #Covid-19, mas a vida corre risco pela pobreza que cresce no Brasil.
Saudades do #Betinho…
Ainda bem que temos o padre #JulioLancelotti…
Se você, leitor, puder e quiser fazer uma criança feliz, compre um brinquedo e presenteie uma criança. A alegria contagia. Ver a felicidade de uma criança certamente amenizará, mesmo que por alguns momentos, a tristeza de um adulto.