Por Fidel Forato, compartilhado do Site Canaltech –
Mesmo que o novo coronavírus (SARS-CoV-2) tenha sido descoberto no final de 2019, pesquisadores ainda investigam seu comportamento e, principalmente, suas mutações. Nesse cenário, cientistas brasileiros verificaram dois casos no Rio Grande do Sul, onde os pacientes estavam contaminados por duas variantes diferentes do vírus da COVID-19, de forma simultânea. A situação é conhecida como coinfecção e era, até então, inédita no Brasil.
Segundo os pesquisadores envolvidos na descoberta, o fato aponta para a intensa circulação do coronavírus pelo país e para a necessidade de se vacinar o maior número de pessoas possíveis contra a COVID-19. Entre os cientistas, estão membros do Laboratório de Bioinformática do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), em Petrópolis, e do Laboratório de Microbiologia Molecular da Universidade Feevale, em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul.
Coinfecção do coronavírus
Além de encontrar os dois casos de coinfecção, o levantamento analisou, no total, amostras de genomas de coronavírus coletadas em 92 pessoas diagnosticadas com COVID-19. Em específico, a coinfecção foi observada em dois adultos, de 30 e 32 anos, moradores de cidades diferentes do Rio Grande do Sul. Ambos desenvolveram um quadro de leve a moderado da infecção por coronavírus, não precisando de internação hospitalar.
Uma das linhagens presentes nos dois casos é a P.2, identificada pela primeira vez no Rio de Janeiro e que carrega a mutação E484K. Essa mutação pode permitir que coronavírus escape, com mais eficiência, do ataque de anticorpos e também foi encontrada na variante da África do Sul. Além da variante P.2, o levantamento também encontrou uma variante gaúcha do coronavírus, chamada VUI-NP13L.
Riscos da coinfecção
As pesquisas sobre coinfecção entre diferentes linhagens do coronavírus são recentes. Além da descoberta brasileira, outro estudo, feito na África do Sul, também sugeria essa possibilidade em relação ao vírus da COVID-19. Agora, essa realidade traz uma série de implicações, como a de que a doença mantém uma alta circulação, o que permite que uma pessoa se contamine duas vezes, por exemplo.
Além disso, “a coinfecção mostra que há a possibilidade de recombinação de genomas do vírus. Esse mecanismo está na base da geração de novos coronavírus na natureza. Possivelmente, foi assim que o SARS-CoV-2 passou de morcegos para o ser humano. Esses casos do Sul mostram que a evolução do Sars-CoV-2 pode estar acelerando e são mais um sinal de alerta”, explicou o virologista Fernando Spilki, coordenador do estudo, para o jornal O Globo.
“As pessoas com COVID-19, mesmo que branda, precisam saber que realmente precisam se resguardar. E são as aglomerações que permitem ao vírus se espalhar como bem entende. A vacinação precisa ser muito mais rápida do que temos visto para conter a pandemia”, ressaltou o pesquisador sobre o risco de uma infecção dupla da COVID-19.
Fonte: O Globo