Com incidência de infecções equivalente a quase o dobro da média nacional, capital alemã tem longas esperas em centros de testagem, lojas vazias e serviço reduzido no transporte público.
Por Sabine Kinkartz | Bettina Marx de Berlimhá, compartilhado de DW
Quatro jovens estão sentados do lado de fora do cartório do distrito de Charlottenburg, em Berlim. Eles vestem jaquetas grossas, e um deles segura uma garrafa de champanhe. No banco ao lado, vê-se um bolo de casamento, e ouvem-se risadas.
Angela e Johannes acabaram de se casar – sob restrições da pandemia do novo coronavírus, que permitem apenas a participação de até sete pessoas na cerimônia que selou a união do casal.
“Para o casamento, tínhamos de estar vacinados, recuperados ou recentemente testados”, diz a noiva. A cerimônia no cartório durou entre 10 e 15 minutos. “Tivemos a permissão para tirar nossas máscaras e nos beijar quando dissemos ‘sim'”, conta Angela, que não queria deixar que o aumento acentuado de infecções em Berlim estragasse seu humor.
Mas o clima está pesado no animado bairro de Kreuzberg. As ruas repletas de pequenas lojas, restaurantes e cafés estão incomumente calmas. Veem-se apenas alguns pedestres.
“Está completamente morto”, diz uma vendedora, que acrescenta nunca ter vivenciado uma queda de movimento tão acentuada. Com o alto número de infecções pelo coronavírus, poucas pessoas estão saindo atualmente.
O número de casos de covid-19 em Berlim disparou. A incidência de sete dias nesta terça-feira (18/01) era de quase mil infecções por 100 mil habitantes – quase o dobro da incidência média nacional (553,2). A variante ômicron há muito substituiu a delta em distritos densamente povoados como Mitte e nas áreas de Neukölln, Friedrichshain e Kreuzberg, no sudeste da capital alemã.
Longas filas nos centros de testagem
O alto número de infecções tem gerado uma avalanche nos 12 centros públicos que oferecem testes rápidos de antígeno gratuitos e exames PCR.
Longas filas se estendem pelas ruas. Um jovem casal do lado de fora de um centro de testes em Wedding relatou à dW no último sábado que já estavam na fila há uma hora e certamente teriam que esperar por mais uma. “Fizemos dois testes rápidos que deram negativo”, disseram. “Mas tivemos contato com alguém que está infectado. Por isso, queremos agora clareza por meio de um PCR.”
Atrás do casal estão inúmeras pessoas esperando, todas com máscaras e respeitando o distanciamento social. A fila tem ao menos 300 metros de comprimento. Faz frio, e a previsão é de chuva, o que significa que quem não estiver infectado pelo coronavírus pode sair dali resfriado.
Laboratórios de testes à beira do colapso
Em frente ao centro de testagem da empresa Coronatest não há fila tão extensas. A empresa opera 50 centros de testagem em toda a Alemanha – do quais 20 em Berlim. Ela oferece testes de antígeno e PCR, que são avaliados em quatro laboratórios próprios. Os testes de PCR custam entre 14,99 e 120 euros, dependendo da pressa desejada pela resposta e para qual fim o teste é necessário.
Já no caso dos centros públicos de testagem em Berlim, apenas dois laboratórios foram contratados para avaliar os exames. Por causa da sobrecarga, alguns resultados têm levado de três a quatro dias para serem comunicados.
Até o renomado Hospital Universitário Charité foi afetado, pois todo paciente que é internado deve primeiro ser isolado até a chegada do resultado do teste de PCR. A empresa de Föckersberg se ofereceu para ajudar, mas a oferta foi rejeitada pelas autoridades da capital alemã.
Licenças médicas ameaçam a economia
Föckersberger espera que as autoridades sanitárias de Berlim solucionem o problema dos centros de testagem superlotados e que sua empresa também receba algum apoio. No momento, porém, ele tem outro problema: vários funcionários que operam em seus centros de testagem estão de licença médica – o que faz com que alguns dos locais operem com metade da capacidade.
Altos números de infecções e de pessoas doentes podem em breve levar à um colapso na sociedade berlinense. As prateleiras dos supermercados ainda estão bem abastecidas, mas os desafios em termos de infraestrutura estão aumentando – até as empresas de transporte público já anunciaram que limitarão o número de ônibus em algumas linhas nesta semana.
As variantes do novo coronavírus
Para evitar a estigmatização e a discriminação dos países onde as variantes do Sars-Cov-2 foram detectadas pela primeira vez, a OMS padronizou seus nomes conforme letras do alfabeto grego.
Foto: Sascha Steinach/ZB/picture alliance
Várias denominações para uma cepa
A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu que as novas variantes do coronavírus passam a ser chamadas por letras do alfabeto grego e não devem mais ser identificadas pelo local onde foram detectadas pela primeira vez. Cientistas criticavam ainda que estavam sendo usados vários nomes para a cepa descoberta na África do Sul, como B.1.351, 501Y.V2 e 20H/501Y.V2.Foto: Christian Ohde/CHROMORANGE/picture alliance
Nomes científicos continuam válidos
A OMS pediu que os países e a imprensa passem a adotar a nova nomenclatura das variantes e evitem associar novas cepas aos locais de origem. A organização acrescentou, porém, que as novas denominações não substituem os nomes científicos, que devem continuar sendo usados em trabalhos acadêmicos.Foto: Reuters/D. Balibouse
Variante alfa
A variante B.1.1.7 foi detectada em setembro de 2020 no Reino Unido e se espalhou pelo mundo. Segundo um estudo publicado em março na “Nature”, há evidências de que a variante alfa seja 61% mais mortal do que o vírus original. Entre homens com mais de 85 anos, o risco de morte aumenta de 17% para 25%. Para mulheres da mesma faixa etária, de 13% para 19%, nos 28 dias posteriores à infecção.Foto: Christian Ohde/imago images
Variante beta
Pesquisadores identificaram a variante B.1.351 em dezembro de 2020 na África do Sul. A cepa atinge pacientes mais jovens e é associada a casos mais graves da doença. Os cientistas sequenciaram centenas de amostras de todo o país desde o início da pandemia e observaram uma mudança no panorama epidemiológico, “principalmente com pacientes mais jovens, que desenvolvem formas graves da doença”.Foto: Christian Ohde/imago images
Variante gama
A variante P.1 foi detectada pela primeira vez em 10 de janeiro de 2021 pelo Japão em passageiros vindos de Manaus. Originária do Amazonas, ela se espalhou pelo Brasil e outros países vizinhos. A cepa possui 17 mutações, três das quais estão na proteína spike. São provavelmente essas últimas que fazem com que o vírus possa penetrar mais facilmente nas células para então se multiplicar.Foto: Christian Ohde/imago images
Variante delta
A variante B.1.617, detectada em outubro de 2020 na Índia, causa sintomas diferentes dos provocados por outras cepas, é significativamente mais contagiosa e aparentemente aumenta o risco de hospitalização, segundo sugeriram estudos. “O vírus se adapta de forma inteligente. Muitos doentes recebem resultados negativos nos testes, mas desenvolvem sintomas graves”, explicou um médico de Nova Déli.Foto: Christian Ohde/imago images
Variante ômicron
A nova variante B.1.1.529, batizada de ômicron pela Organização Mundial da Saúde, foi descoberta em 11 de novembro de 2021 em Botsuana, que faz fronteira com a África do Sul, onde a cepa também foi encontrada. A ômicron contém 32 mutações na chamada proteína “spike” (S), número considerado extremamente alto. Cientistas avaliam que essa variante se dissemina mais rapidamente do que as anteriores.Foto: Andre M. Chang/Zuma/picture alliance
A busca pela padronização
O novo padrão foi escolhido após “uma ampla consulta e revisão de muitos sistemas de nomenclatura”, afirma a OMS. O processo durou meses e entre as sugestões de padronização estavam nomes de deuses gregos, de religiões, de plantas ou simplesmente VOC1, VOC2, e assim por diante.Foto: Ohde/Bildagentur-online/picture alliance
Nomes e apelidos polêmicos
Desde o início da pandemia, os nomes utilizados para descrever o Sars-Cov-2 têm provocado polêmica. O ex-presidente americano Donald Trump costumava chamar o novo coronavírus de “vírus da China”, como forma de tentar culpar o país asiático pela pandemia. O vírus foi detectado pela primeira vez na cidade chinesa de Wuhan.Foto: picture-alliance/AA/A. Hosbas
Novas cepas podem ser mais perigosas
Mutações em vírus são comuns, mas a maioria delas não afeta a capacidade de transmissão ou de causar manifestações graves de doenças. No entanto, algumas mutações, como as presentes nas variantes do coronavírus originárias do Reino Unido, da África do Sul e do Brasil, podem torná-lo mais contagioso.Foto: DesignIt/Zoonar/picture alliance
Associação ao local de origem
Historicamente, vírus novos costumam ganhar nomes associados ao local de descoberta, como o ebola, que leva o nome de um rio congolês. No entanto, esse padrão pode ser impreciso, como é o caso da gripe espanhola de 1918. As origens desse vírus são desconhecidas, mas acredita-se que os primeiros casos tenham surgido no estado do Kansas, nos Estados Unidos.Foto: picture-alliance/National Museum of Health and Medicine