Por Marina Grossi, compartilhado de Projeto Colabora –
Conselho propõe uma nova agenda para 2050 com contribuições das empresas para uma sociedade mais justa, resiliente e sustentável
(*) Com Marcos Bicudo
O ano era 1997: passados cinco anos da Eco-92, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento sediada no Rio de Janeiro, um grupo de empresários brasileiros já estava atento às mudanças e oportunidades que o ainda embrionário movimento da sustentabilidade traria. Desse grupo e dessa intenção nasceu o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), cujo objetivo é promover o desenvolvimento sustentável por meio da articulação junto a governos e sociedade civil, além de divulgar conceitos, práticas e ferramentas que permitam orientar as empresas nessa jornada.
Representamos, no Brasil, a rede do World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), que conta com quase 60 conselheiros nacionais e regionais em 36 países, além de 200 grupos empresariais que atuam em todos os continentes.
Ao longo desses 24 anos, o mundo mudou, a sociedade se transformou e a sustentabilidade se tornou mais do que um imperativo para que os negócios sejam bem-sucedidos. Já não basta mitigar os impactos negativos nas questões sociais e ambientais: os negócios que irão prosperar neste novo século são aqueles que produzem impactos positivos e regeneram os ecossistemas.
Naquele ano de 1997, o mundo dava os primeiros passos para a resolução das questões de mudanças climáticas, com a assinatura do Protocolo de Quioto, acordo que estabeleceu metas de redução das emissões de gases de efeito estufa para os países desenvolvidos. Hoje, há o consenso científico de que o aquecimento global é agravado pela ação antrópica na terra e de que todos os países, ricos e em desenvolvimento, devem fazer sua parte para evitar que a temperatura global se eleve além de 1,5oC. São quase 200 países signatários do Acordo de Paris e comprometidos com esforços para zerar as emissões líquidas até 2050.
Se antes o setor privado era um coadjuvante nas ações e decisões sobre desenvolvimento sustentável, hoje é parte da solução – seja na adoção de tecnologias limpas e no investimento em fontes de energia renovável, seja no advocacy para que governos tomem medidas mais robustas na esfera socioambiental. No CEBDS, hoje reunimos 60 dos maiores grupos empresariais do país, com faturamento equivalente a 45% do PIB e responsáveis por gerar mais de um milhão de empregos diretos.
Esse grupo está à frente de importantes ações, como o comunicado que lançamos em 7 de julho do ano passado, em nome de mais de 90 CEOs signatários e importantes associações do agronegócio, da indústria e do setor florestal, reforçando que é possível conciliar a produção com a preservação ambiental. O setor privado brasileiro entende que o combate ao desmatamento ilegal, especialmente no bioma amazônico, é condição sine qua non para que o Brasil continue competitivo nos mercados e fazendo parte de acordos comerciais importantes. O documento, endereçado aos Três Poderes, vocaliza a intenção das empresas brasileiras de contribuir para que o Brasil atinja o objetivo de zerar o desmatamento, além de cobrar mais ações de comando e controle do poder público. É consenso, entre os associados ao CEBDS, que é imperativo tratar a Amazônia não como um passivo, mas como um ativo valiosíssimo e estratégico para o Brasil.
É de olho nesse futuro que não está distante que trazemos novidades para celebrar os 24 anos do CEBDS. Uma delas é o lançamento, em webinar no dia 25 de Março, da publicação Visão Brasil 2050, uma agenda renovada e ambiciosa para a ação empresarial, que oferece um mapa do caminho para as empresas contribuírem de forma concreta com uma visão de futuro para um sociedade mais justa, resiliente e sustentável. O processo foi construído com a participação das companhias, sociedade civil e academia, envolvendo mais de 4 mil pessoas. Prezamos por capturar diferentes entendimentos sobre os temas, de modo que o documento será um pilar fundamental da agenda empresarial para o Brasil de 2050.
Também lançamos o primeiro Banco de Imagens da Diversidade, totalmente gratuito e acessível para toda a sociedade, que disponibilizará imagens para uso não comercial com o objetivo de fomentar a cultura da inclusão e representatividade. Com o slogan “A diversidade está aqui”, o Banco de Imagens foi idealizado pela equipe de comunicação do CEBDS e as imagens são contribuições das mais de 60 empresas que compõem a entidade. Estará hospedado no site do CEBDS (www.cebds.org), com atualizações frequentes e contemplará imagens de mulheres, pretos, transsexuais, pessoas com deficiência e de todas as regiões do país, ilustrando a diversidade ímpar da população brasileira. Entendemos que representatividade importa, e muito.
Chegamos a essa etapa cientes de que vivemos uma fase de transição: o modelo de desenvolvimento mudou, e a voz do empresariado precisa ecoar para além dos ruídos. Os consumidores, munidos de seus smartphones, têm informação à mão e pressionam mais e mais as empresas que não estejam comprometidas com as questões socioambientais. Investidores querem ativos baseados nos critérios ESG (ambiental, social e de governança) para mitigar riscos e alcançar o impacto positivo que fará a diferença em um mundo tão desigual. O futuro é a economia regenerativa e baseada na colaboração. Estamos no meio desta jornada, mas precisamos acelerar.
(*) Marcos Bicudo é Chair do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS)