Mais uma sessão da coluna “A César o que é de Cícero”, do doutor em Literatura Cícero César Sotero Batista. Desta vez, César nos leva ao cinema de Pier Paolo Pasolini, o revolucionário cineasta italiano. Com direito a uma aula magna do profesor Roberto Chiesi, e de um artigo comparando o pensamento de Pasolini em contraponto ao atual inquilino do Palácio do Planalto, veja o texto do nosso César.
“Para Flávio Pimentel.
No vídeo abaixo, em uma exposição clara, o professor Roberto Chiesi comenta toda a produção de Pasolini. Até o italiano do professor é um exemplo de clareza.
Certamente trata-se de um registro da norma culta, que em inglês a gente chama de RP (received pronunciation). Ainda assim, fico mais feliz do que foto de criança em propaganda de Malwee em conseguir acompanhar seus argumentos e a musicalidade de sua fala.
Pasolini registrou a seu modo um fenômeno de seu tempo, que é o segundo decênio do século XX: além das lutas pela libertação nas Américas e nas Áfricas, há também a metamorfose das classes populares.
Tendo sido destruídas suas bases sociais, isto é, aquilo que as caracterizavam, as classes populares se tornam reféns de um desejo de arrivismo social: querem ser classe média. Ou como o professor diz, “picollo” burguês.
Nada contra ter desejo de acesso a bens de consumo e tais, o problema está em garantir a todos tal acesso.
Com o advento de YouTube e tais, basta uma pesquisa rápida para encontrar diversos filmes de Pasolini na rede. Senão todos, ao menos os mais relevantes que Chiesi citou.
Umas palavras para seu cinema: anômalo, fora dos padrões hollywoodianos, tributário do diálogo com as artes plásticas e com a corporeidade popular.
Como seria bom se não tivéssemos tido que esperar pelo centenário de Pasolini para assistir a esta palestra, mesmo sabendo que os tempos de hoje estão mais para celebrar Pasolini do que para propriamente discutir o alcance crítico de seus filmes.
Vivemos, talvez, em uma era pós-pasoliana.”
Foto da capa do post: Renan Guedes Sobreira
Os 100 Anos de Pasolini, vídeo – Aula Magna com Roberto Chiesi
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Texto do site Juventudes Iberoamericanas
Sobre o autor
Radicado em Nilópolis, município do Rio de Janeiro, Cícero César Sotero Batista é doutor, mestre e especialista na área da literatura. É casado com Layla Warrak, com quem tem dois filhos, o Francisco e a Cecília, a quem se dedica em tempo integral e um pouco mais, se algum dos dois cair da/e cama.
Ou seja, Cícero César é professor, escritor e pai de dois, não exatamente nessa ordem. É autor do petisco Cartas para Francisco: uma cartografia dos afetos (Kazuá, 2019) e está preparando um livro sobre as letras e as crônicas que Aldir Blanc produziu na década de 1970.