Por Claudio LovatoFilho, jornalista e escritor –
E se um dia descobríssemos que a cidade em que nascemos nunca existiu?
E que os melhores amigos que tivemos nunca nasceram?
E que as árvores em que subimos usando nossos braços e pernas de criança jamais irromperam do solo?
E que a maravilhosa família que constituímos nunca passou de uma vontade comovente, cultivada em melancólicos finais de tarde de domingo?
E que todas as viagens que fizemos jamais evoluíram do plano à ação?
E que os livros que lemos jamais foram escritos?
E que os sorrisos que entendíamos como dirigidos a nós, não o foram, jamais o foram?
E que aquele gesto essencial, que julgávamos ter feito com tanta precisão e generosidade, jamais foi compreendido por seu destinatário, um destinatário sem dúvida muito especial para nós, mas que, no entanto, também nunca existiu?
E que nosso país optou por ignorar seus filhos mais pobres, e os filhos de seus filhos mais pobres, pelo fato de não considerá-los merecedores de qualquer tipo de tentativa de salvação?
E que – para muitos, a tragédia das tragédias! – a fundação do clube que amamos desde sempre jamais saiu do âmbito das intenções na cabeça de um grupo de jovens do início do século passado, que então resolveu ir fazer outra coisa?
Sejamos gratos: pelo que somos, pelo que realizamos, pelo que temos.
E, conselho final: pensamentos positivos antes de dormir, para que os sonhos sejam mais alentadores e os pesadelos, menos cruéis.