Os cinéfilos vão adorar. Principalmente os cinéfilos mais sintonizados com a produção europeia.
Por Celso Sabadin, compartilhado de Planeta Tela
Imaginem só a atriz Chiara Mastroianni – a célebre filha de Marcello Mastroianni e Catherine Deneuve – interpretando a si própria no papel de uma atriz que está farta de ser comparada aos seus famosos pais. Certo dia, como uma forma de protesto contra quem não respeita sua individualidade, Chiara decide “mudar de personalidade”: passa a se vestir igual ao seu pai, e só aceita ser chamada de Marcello.
A partir daí, o roteirista e diretor Christophe Honoré (o mesmo do recente “Inverno em Paris”) investiga com humor as diversas reações que a transformação de Chiara provoca. Sua mãe (a própria Catherine Deneuve, claro) entra em pânico, enquanto seu colega Fabrice Luchini – também vivendo a si mesmo – fica maravilhado com a possibilidade de, finalmente, tornar-se amigo pessoal de Marcello Mastroianni. E de – por que não? – contracenar com ele num próximo filme.
Ao brincar satiricamente com o fantástico e fantasioso universo do cinema, Honoré faz uma divertida provocação sobre os limites entre realidade e fantasia, questionando até se tais limites de fato existem. Se o que é construído em nossos corações e mentes – via cinema – se mostra mais satisfatório do que o real nos impõe, por que não assumi-lo?
E de fato não há como negar que – em alguns fugazes segundos – Chiara parece efetivamente se transformar em Marcello, para a alegria micro momentânea de seus fãs. Ou, como já disse John Ford no clássico “O Homem que Matou o Facínora”, “quando a lenda é mais interessante que a realidade, imprima-se a lenda”.
Selecionado para a mostra competitiva principal do Festival de Cannes, “Marcello Mio” estreia em cinemas nesta quinta-feira, 12/12.