Por Anselmo Ferreira, jornalista, no Facebook
Desde cedo – não sei precisar a minha idade na época – , descobri o poder das armas e passei a temê-las. Primeiro, ganhei dois revólveres de espoletas do Zorro e aquele brinquedo barulhento só me trouxe dissabores: a perda de um amigo numa briga, porque ele queria brincar com o meu brinquedo e eu não deixei e ele à revelia pegou um deles e o escondeu ad perpetuam. Foi o fim de minha carreira de paladino da justiça.
Segundo, numa briga entre parentes vi um tio por um revólver de verdade na cabeça de uma tia. Ainda bem – bem mesmo -, que ficou só na ameaça e o pior não se concretizou. Mas, configurou uma cena, que meio século depois, ainda me atormenta e incomoda.
Quando comecei a minha carreira de jornalista profissional ia nas delegacias pegar BOs (Boletins de Ocorrências), para gerar matérias ou notas. Fugia de assuntos muito violentos. Até porque, a violência era infinitivamente menor se é que sobre o assunto violência é possível aliviar assim.
Também na época havia um tal de “esquadrão da morte”, uma espécie hoje das institucionalizadas milícias. Tinha também a ditadura militar, matando e desaparecendo com gente de esquerda, cujas ideias eram contrárias às deles.
Hoje, a violência perpetrada em Suzano assusta – com as mortes de oito pessoas -, assim sem mais nem menos, num trágico episódio, onde mais e mais pessoas poderiam ter sido assassinadas de forma imbecil e sem sentido.
A semente disso o excesso de propagação de armas de forma indiscriminada, a facilidade em adquiri-las e, nesse momento, especialmente, a simbologia da arma na mão de milhões, inclusive crianças, que apoiaram uma campanha de um grupo político que levou ao cargo um presidente, defensor das armas de fogo em nome da “proteção da vida” e, não obstante, simpático à ideologia, que matou Marielle, cujo incentivo institucional pode extrapolar para mais Suzanos pelo país, afora, e outras Marielles….
Assim, como cantava Elis: “Choram Marias e Clarices…no solo do Brasil”. Agora choramos todos nós.