Por Ulisses Capozzoli no Facebook –
Quando a polícia, fracassou no atendimento a um socorro de emergência, no condado de St. Charles, no Missouri, na tarde deste 18 de março, as consequências foram maiores que qualquer um poderia imaginar.
E está resumida em uma notícia catastrófica: Chuck Berry está morto.
Não pense que você esteja a salvo dos efeitos desse acontecimento, mesmo que não seja capaz de dizer o nome de uma única música desse artista negro de talento & irreverência incomparáveis.
Nem de reconhecer qualquer um dos acordes da guitarra que ele manejou como ninguém.
Chuck Berry está presente em toda música pop que não seja lixo.
Produzida & ouvida em qualquer parte do mundo.
E vou antecipar: muito além deste mundo, o que não tem nada de místico & religioso
Chuck Berry é um dos pais do rock and roll, a música que ajudou a construir o século 20.
Quando, pela primeira vez, na história da civilização, os humanos romperam as garras da gravidade e entraram em órbita da Terra.
Ensaiando um passo que nos levou à Lua. E agora abre caminho para uma rota inimaginável, entre as estrelas.
Chuck Berry está presente nessa viagem. Na verdade, ele decolou para longe do Sol já em meados dos anos 1970, para fazer o que sempre fez: anunciar o futuro.
Agora, neste exatíssimo momento,está onde ninguém, nem nada da Terra, esteve antes.
Consulto duas das enciclopédias que tenho sobre a história do rock.
A já amarelada “The ilustrated history of rock music”, de Jeremy Pascall e “Who’s who in rock & roll”, editada por John Tobler.
Chuck Berry, tem evidente destaque nas duas.
E ambas, nos levam a ter saudade do futuro, como os sentimentais & poéticos portugueses.
Um futuro que poderia ter sido & não foi.
Chuck Berry viaja a bordo das naves gêmeas Voyager 1 e 2.
A segunda, lançada em 5 de setembro de 1977.
A primeira, em 5 de setembro, menos de um mês depois.
A bordo, essas pequenas naves que devassaram os planetas exteriores, os que ficam além da órbita da Terra, levam um disco de ouro, com pretensões de poder ser tocado por eventuais alienígenas que possam encontra-las nas vastidões do espaço-tempo.
Nesta época de lógica sumária, pode parecer pura poesia.
Pode ser que seja.
Mas foi uma iniciativa de Carl Sagan, a famosa estrela da astronomia & divulgação científica que encantou milhões com livros & documentários para sensibilizar as pessoas sobre o que vale a pena.
Na Terra e muito distante dela.
Na Terra e nas vastidões do espaço que vão além que olhos humanos são capazes de perceber. Mesmo com a ajuda de sofisticados telescópios.
Os discos da Voyager levam sons da Terra, para eventuais inteligências da Galáxia.
A Voyager-1, no momento em que escrevo este texto, está a 138 unidades-astronômicas de distância da Terra, entrando na área de influência de estrelas vizinhas, já fora do reino do Sol. Ela pode ter uma chance ligeiramente maior de sucesso que sua irmã gêmea.
Em 40 mil anos, estará a 1,6 ano-luz de distância da estrela AC+ 79 3888, na constelação do Ophiucus, entre Escorpião e Sagitário e que, por razões que não cabe discutir aqui, teria mudado toda a história da astrologia, a ancestral da moderna astronomia.
Curiosamente, a Voyager-1, dependendo da época, aproxima-se da Terra.
E isso porque a velocidade da Terra em torno do Sol (aproximadamente 108 mil km/hora) é maior que a da pequena nave que se distancia de nós.
O que, momentaneamente, diminui as distâncias que nos separam.
As naves levam em seus discos de ouro, imagens e indicações para localização da Terra.
Sons da natureza como vento, chuva, sismo & trovão.
De animais como grilo, baleia, elefante & chipanzé.
De passos humanos & batidas do coração.
O som de um beijo entre mãe & filho.
De música: Bach, Beethoven, Stravinsky & Mozart.
E Chuck Berry, com um dos seus maiores sucessos: Johnny B. Goode.
Sobre um homem que vive em Louisiana, perto de New Orleans, abrigado em uma pequena & miserável cabana, e que nunca aprendeu a ler & escrever direito.
Mas toca sua guitarra como ninguém…