Por Wagner de Paula –
Um show emblemático nos anos 70: sediado no Ginásio da Portuguesa de Desportos, reuniu grandes nomes da música brasileira em prol dos jornais alternativos, chamada “imprensa nanica”. Leia aqui o relato do produtor, amigo do Bem Blogado, Wagner de Paula, que fez parte do memorável projeto, dando um quadro sobre aquela época.
Nos anos 70, a cultura musical popular mundial herdou as revoluções, tanto sócio-políticas como nos costumes da década anterior, no rock-pop ou jazz. Na MPB, com a bossa nova, os festivais da canção que via televisão se popularizaram como divertimento das massas.
A cultura de maneira geral, usufruiu dos avanços da tecnologia. Redes de TV e as rádios FM se multiplicaram em estações por diversos segmentos musicais.
Neste bojo, algo curioso aconteceu. Aquele rock internacional antes ingênuo das baladas de amor e harmonizações vocais ficou mais ousado e invadiu por outros estilos, uma das variantes investiu na música com instrumentação pesada e com muitos watts na amplificação, grupos como Iron Butterfly, (Borboleta de Ferro) e Led Zeppelin (Keith Moon, baterista do The Who, disse a Jimmy Page que a banda dele iria voar como um balão de chumbo. Daí o nome “zeppelin de chumbo”, lead zeppelin. Depois Page tirou o “a” para que os fãs do grupo não pronunciassem “lid” – som que lead tem quando significa liderança. Sic).
Aqui no Brasil o que foi de chumbo foram os anos sob o tacão da ditadura militar, que veio para uma passagem, mas que criou raízes e não voou, não.
A MPB seguiu sua linha evolutiva aceitando contribuições várias, mas sem perder sua essência nacional e popular.
Neste cenário aflitivo com uma censura draconiana no campo da cultura e suas manifestações, houve resistência e aqui se insere esta colaboração dos compositores e interprétes brasileiros que se irmanaram aos jornalistas, da chamada imprensa nanica, que editava jornais do formato tabloide, como Versus, Em Tempo, Opinião, Movimento, Pasquim, Flor do Mal, Rolling Stone e outros.
Este Show em verdade foi um festival de estilos, tendências musicais com nomes dos mais significativos tanto em prestígio musical como em sucesso comercial da Indústria do Disco.
O objetivo material foi angariar fundos para que esta imprensa sobrevivesse já que as edições eram confiscadas nas bancas de jornal. Contas e salários precisavam ser saldados. Porém, o auxílio monetário resultou em sucesso massivo de público e, mais do que isso, o significado deste ato cívico, político e musical repercute até hoje.
Há de se recordar que eram tempos de censura prévia e que tínhamos que ler/ouvir nas entrelinhas. Tempos de uma repressão feroz no qual foi necessário muita coragem para ser oposição.
Aliás, hoje, evento pode nos servir de inspiração, há nuvens de chumbo que parecem pairar ameaçando obstaculizar novamente os horizontes da democracia. Ginásio da Portuguesa show pró Jornais Versus e Movimento.
Direção Geral: Fernando Peixoto Diretores
Assistentes: Mário Masetti, Wagner de Paula
Maquinista: Carioca
Contra regra: Carreira Músicos
Interprétes: Cesar Camargo Mariano e São Paulo S/A, Elis Regina, Grupo Modo Livre , Gonzaguinha, Ivan Lins, Marcus Vinicius, Sérgio Ricardo, Fafá de Belém, João Bosco, Jards Macalé, Chico Buarque, mais um “exército” de músicos, seguranças e colaboradores anônimos que, como todos, ofereceram seu trabalho gratuitamente para realização do evento.
Obs.: Não foi possível identificar a data do show. Se alguém souber, favor nos ajudar.
Fotos: Edson Sanches