Por Nirton Venancio, professor de Literatura, poeta, cineasta –
“Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda há de zombar de nós essa tua loucura? A que extremos se há de precipitar a tua audácia sem freio? Nem a guarda do Palatino, nem a ronda noturna da cidade, nem os temores do povo, nem a afluência de todos os homens de bem, nem este local tão bem protegido para a reunião do Senado, nem o olhar e o aspecto destes senadores, nada disto conseguiu perturbar-te? Não sentes que os teus planos estão à vista de todos? Não vês que a tua conspiração a têm já dominada todos estes que a conhecem?”
A peça oratória acima foi proferida na longínqua data 63 a.C, no Senado romano. Marco Túlio Cícero, então cônsul de Roma, denuncia publicamente uma conspiração montada por seu inimigo Lucius Sergius Catilina, militar e senador, célebre por ter tentado derrubar a República Romana, e em particular o poder oligárquico do senado.
Nesse duro pronunciamento, expõe a conspiração e sugere que Catilina busque o exílio.
E que cruel coincidência ser tão atual, tão aplicável ao lamaçal de negociatas para as eleições dos presidentes da Câmara e Senado brasileiros. Mais uma página infeliz de nossa história neste retrocessivo Ano 3 da Era Tosca do enxurdeiro que se tornou o país.
Triste Brasil, “oh, quão dessemelhante. Tanto negócio e tanto negociante.”
Imagem na capa da postagem: “Cicero denuncia Catilina”, afresco de Cesare Maccari, 1888. O quadro encontra-se exposto no Palazzo Madama, sede do Senado em Roma.
Catilina é o cínico convexo à direita.