Por Luiz Antonio Simas –
Estou vivendo uma emoção infantil com o Rio de Janeiro, minha cidade. Sou um daqueles malucos (irresponsável, segundo uma porrada de gente) que caminham desde o início com os – da Praça São Salvador ao Irajá, passando pela Tijuca, Vila e Meier e querendo cirandar na zona oeste – fechados com a campanha Marcelo Freixo nessa disputa municipal.
Ontem, no balcão do Bar Madrid, conversei sobre isso com o Zé Trajano, um mais querido, que em 1986 fez a campanha de Darci Ribeiro ao governo do Rio, e resolveu dar uma louca e ficar aqui, depois de ter sido demitido por escusas razões da ESPN, para fazer a campanha do Freixo. Estamos muito emocionados com essa barafunda carioca.
Nós, porra-loucas do Rio de Janeiro, estamos ilhados no meio do conservadorismo que tomou conta do Brasil. Eduardo Suplicy, outro doido, tá chegando na terça pra passar dois dias panfletando na cidade. Uma turma de gente que eu adoro não caminhou com Freixo no início deste processo; preferiu a Jandira ou – legitimamente – abraçar a campanha do Pedro Paulo, de uma forma pragmática, achando que era melhor manter a pegada do Paes.
Eu poderia ter feito isso, mas preferi bancar o otário iludido e caminhar com a esquerda mesmo, já que reconheço algum avanço do Paes no campo da gestão da cultura, mas acho que a prefeitura dele, no âmbito mais geral, foi gentrificadora, encarou a cidade como um balcão de negócios, foi uma calamidade na educação, etc. E eu não sou pragmático, me desculpem. Sou um otário iludido pelo meu sonho mais bonito.
Não sou um sujeito que rompa relações por política. Sou compadre do Eduardo Goldenberg, que caminhou com o Pedro Paulo, militou ardorosamente por isso. Na véspera da eleição ele estava na minha casa, tomando vinho na minha mesa e brincando com meu filho. Gosto muito, a turma da esquerda mais sectária vai querer agora me apedrejar, do Carlos Andreazza, que certamente discordará de tudo desse texto e tem uma visão política oposta da minha. Somos, todavia, imperianos (quer elo maior?), gostamos de samba e achamos que a revolução que o Fundo de Quintal fez no samba é fenomenal. Quando fraternalmente nos encontramos, sabemos que algo em comum, mais forte que divergências políticas, sempre será capaz de estabelecer entre nós o elo da camaradagem: Luiz Carlos da Vila é maior que tudo isso.
Babaca iludido, otário, defensor de bandido, cirandeiro da zona sul, cheio de lêndea, maluquinho de Santa, fanfarrão,traficante, maconheiro, bicha, infantil, tropicalista de DCE, macumbeiro, retrógrado, idiota, burro, sectário, assassino, cubano e arcaico: de tudo isso fui chamado, já que fecho com Freixo.
Não somos favoritos; o bispo tem muito mais estrutura e a campanha macartista mais rasteira está comendo solta.
Eu acho, todavia, que já ganhamos e podemos ganhar. Derrotamos a máquina do PMDB, o progressismo de fachada (desabado com a adesão de Reinaldo Azevedo e Noblat) da galera do Paes e a certeza de que eleição sem televisão é caso perdido.
Embarcamos numa aventura típica do Exército Brancaleone: branca, branca, branca! Estamos aí, vivos, esperançosos, tolos, engajados, à esquerda, fazendo vaquinha, abraçando a meninada que tá levando a campanha pra frente na marra, cercados pelos reacionários e pragmáticos, e fazendo da cidade a paliçada de Uruçu-Mirim.
Somos a Confederação dos Tamoios travestida de maluquetes que podem, e querem, governar generosamente o Rio. Nessa onda, me reencontro com o moleque que fui e queria mesmo melhorar essa caralha do mundo.
Esta aventura está me fazendo (sou um iludido otário, não se esqueçam) ter vontade de chorar de alegria o dia todo.
Já ganhamos. Perderemos? Nunca. Já ganhamos, porra. Mas podemos, inclusive, ganhar!
Isso é só um desabafo de um carioca iludido, nada pragmático, que, ainda bem, esqueceu de crescer e sonha com a terra sem males. Escrevo de sopetão. Eu estou em infância ambulante de beleza e isso, de mim,ninguém há de tirar. Ganhamos.
Saravá nossa fanfarra!