Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, Bem Blogado
São cada vez mais evidentes os sinais da opção de Ciro Gomes de tentar pavimentar sua candidatura presidencial em 2022 pelo centro político. A guinada, aliás, já começou na reta final da campanha de 2018, e só ganhou velocidade de lá para cá. É uma jogada arriscada em termos eleitorais e políticos, mas compreensível.
Primeiro, é preciso fugir do sectarismo tosco que aponta Ciro como membro da direita. Não é, tanto que participou com lealdade de governos petistas e foi firme na luta contra o golpe que depôs Dilma.
Ocorre que Ciro tem obsessão pela faixa presidencial, julga-se mesmo portador do direito divino de ostentá-la. E percebeu que muito provavelmente nunca teria o aval do PT para tal. E é quase impossível que alguém chegue lá, com programa de governo de esquerda, sem o apoio de Lula.
Só restou a Ciro atacar o antigo aliado e correr ao centro, até agora sem postulante viável para a sucessão presidencial.
Quem acompanha a política brasileira com olhos mais atentos sabe que o PDT de Ciro tem muito pouco do partido criado pelo saudoso e importante Leonel Brizola, uma inegável e legítima liderança histórica do campo popular.
Nas cidades, Estados e até mesmo nas bancadas parlamentares, o PDT abriga muitos nomes do conservadorismo ao lado de gente compromissada com o setor popular. Nas pequenas cidades, principalmente, o partido de Ciro é formado majoritariamente por políticos distantes dos interesses dos pobres.
Ciro está se aliando, nas próximas disputas municipais, com DEM e outras agremiações de direita. Onde esse for o preço para derrotar o PT, esses acordos pragmáticos serão feitos, muitas vezes junto com o pragmático PSB.
É provável que o partido de Lula se saia mal em novembro, mas é um engano apostar que Ciro se fortalecerá se for esse mesmo o resultado.
Em primeiro lugar, eleições municipais não garantem protagonismo a partidos em disputa nacional. Depois, Ciro trabalha contra o estigma de nunca ter ultrapassado os 12% dos votos em todas as vezes em que disputou a Presidência da República.
Conseguirá em 2022 romper esse teto com a ajuda de conservadores? A direita tradicional trocará um dos seus por Ciro?
O tempo responderá em breve as dúvidas acima, mas a lógica política indica que a direita clássica jamais entregará seu destino a alguém que diz não se dobrar a nenhuma força política.
Mais arriscado ainda para Ciro, em termos de um cenário muito hipotético em que ele chegue a um segundo turno contra Bolsonaro, como acha que, além do profundo asco que petistas e lulistas sentem em relação ao fascista, ele conseguirá motivar seu ex-aliados a uma participação ativa depois dos ataques pessoais, dia sim outro também, contra o ex-presidente Lula?
Ciro já gritou demais e nunca passou dos 12%. Agora, atravessou de vez o Rubicão e não quer nada, nem conversa, com o PT. Obviamente, é um direito dele, que tem liderança própria, embora em tamanho menor do que ele supõe.
Mas esse discurso raivoso contra Lula embute riscos para Ciro. Mesmo que não se saia bem na eleição municipal, o PT continuará sendo, no campo popular, o partido mais enraizado e com maior capilaridade.
No centro, direita e extrema direita (Bolsonaro e Moro), está tudo muito congestionado e a disputa será na base da cotovelada. E Ciro não tem votos para chegar lá sem a esquerda.
O tempo dirá se a opção do pedetista, essa tara nos disparos contra Lula, dará certo.
E o PT? Terá que entender rapidamente que passou o tempo em que a burocracia partidária pode tudo, como na escolha da candidatura à Prefeitura de São Paulo. O resultado já está aí.