Por Luis Felipe Miguel, no Facebook
Em entrevista na Folha de hoje, Ciro Gomes se mostra em toda sua grandeza. Não basta uma lupa para vê-lo, é preciso um microscópio eletrônico. O governo eleito e a ameaça que ele encarna não o ocupam; sua energia está toda voltada contra o PT. Não está minimamente preocupado com a resistência democrática; seu projeto para o Brasil começa e termina na sua candidatura. O destempero verbal é tamanho que um homem da dignidade de Leonardo Boff é chamado de “um bosta”, porque ousou criticá-lo.
Não consigo entender qual sinal dos céus deu ao Ciro a certeza de que ele tinha o direito divino de ser o candidato da esquerda das eleições deste ano. Ele foi candidato, legitimamente, mas o vaga no segundo turno foi dada – pelas urnas! – a Fernando Haddad. Felizmente, eu diria. Haddad cresceu enormemente na campanha. E Ciro, como mostrou seu comportamento após a derrota no primeiro turno, realmente não tinha estofo para assumir esse papel.
É possível fazer a crítica – legítima e mesmo necessária – ao PT sem abrir mão da unidade necessária na resistência. É claro também que ninguém espera que essa unidade seja perfeita e sem atritos, mas há um abismo entre trabalhar para que as diferenças sejam respeitadas sem sabotar o trabalho comum ou usá-las para tentar marginalizar parceiros e obter uma liderança de proveta.
Como falei antes, a linha divisória principal é entre aqueles que criticam o PT a partir de um ponto de vista programático, como é o caso do PSOL, e aqueles que estão preocupados apenas com suas ambições pessoais. O PSOL vai ter que lutar para manter sua independência num momento de luta conjunta em que o PT é, de longe, a força mais forte. Tenho certeza de que conseguirá, pela qualidade política de seus quadros. Já Ciro vai ter que decidir se passa à lata de lixo da história ou se tem chance de reciclagem.