Por Janio de Freitas, publicado em Jornal GGN –
As manifestações de Flávio, Jair e Carlos nas últimas semanas revelam que a família começa a sentir o cerco se fechando
Usando na análise a linha do ditado popular ‘colhe o que se planta’, Janio destaca que o esquema de funcionários fantasmas, investigado pelo Ministério Público Federal do Rio, entre as irregularidades administrativas de gabinete quando Flávio Bolsonaro era deputado estadual, foi uma das características da vida pública que ele herdou do pai, Jair Bolsonaro. Tanto que entre as pessoas que tiveram os sigilos bancários e fiscais quebrados pela Justiça, estão ex-funcionários de gabinete do hoje presidente da República.
Ao mesmo tempo, Janio observa que, apesar de evidentes, essas irregularidades não estão tendo a mesma divulgação nos noticiários que tiveram os vazamentos ilegais dos áudios da então presidente Dilma, advogados seus e Lula, e que aumentou o movimento gerador do impeachment da petista em 2016.
“Inexiste ainda a caracterização real e pública dessas sucessivas constatações, por serem seus relatos moderados e intermitentes. O oposto dos vazamentos e do carnaval de manchetes e telejornais nos casos envolvendo Lula, o PT e Dilma”, ressalta Janio.
“Nestes, jornalismo propriamente dito e política + Ministério Público brigaram o tempo todo. A briga continua, mas a rubrica “política” tem composição diferente, sem partidos enlaçados com poder econômico e imprensa/TV/rádio. E os Ministérios Públicos não denotam o facciosismo e o desregramento da Lava Jato”, completa o articulista.
Diante de tudo isso, o jogo do poder que inclui todos (Congresso, Judiciário e imprensa), o cerco aumenta em torno da família Bolsonaro, que fez muito por merecer entrar na zona de mira dos noticiários, não da maneira como gostariam.
“‘Venham pra cima, não vão me pegar!’ é uma boa frase de efeito, mas Bolsonaro deve saber que as circunstâncias, se não a negam, também não a confirmam. Basta o primeiro lote de sigilos bancários a serem quebrados, já próximos de uma centena, para sugerir o que é esperado daí sobre o pai e dois dos filhos. Todo o caso, por sinal, foi constatado por causa de Flávio, mas o iniciador das atividades merecedoras de investigação foi Jair”, pontua Janio.
“Também envolvedor daquele filho, quando, eleito deputado federal, transferiu-lhe os beneficiados, práticas e “fantasmas” que mantinha no Rio”, explica o articulista.
O emaranhado envolvendo as ligações dos Bolsonaros com práticas ilegais mostra ainda a proximidade deles com milicianos, aumentando não apenas o risco de queda do presidente, mas desgaste político de toda uma família.
“Os riscos são grandes. Pendentes apenas da maior ou menor disposição do Ministério Público de ir adiante na sua função —o que, triste é dizê-lo, nunca se sabe”, pondera Janio. Em outras palavras, os indícios, e até provas, são vários e cada vez mais evidentes. A derrocada da família dependerá, portanto, do querer e efetuar da Justiça e Ministério Público Federal.
“Não é uma situação em que Bolsonaro possa contar com a proteção que o levou a cercar-se de generais. Embora, por enquanto, essa trincheira seja uma das intimidações que atenuam os relatos do caso em sua gravidade inequívoca”, continua o colunista.
Há esperança de que as Cortes mais altas do Judiciário tenha agora um comportamento distinto do que teve nos governos petistas, quando permitiu as extravagâncias e abusos de poder do ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro. Essa avaliação de Janio decorre da decisão mais recente da 6ª Turma do Superior Tribunal de Justiça na soltura de Michel Temer e do coronel Lima concluindo que a decisão de prendê-los foi “indevida antecipação de pena”, entre outras irregularidades.
“Moro está sendo descoberto como é de fato. Magistrados protestam, unânimes, contra abusos judiciais. Nisso, por um ângulo, vê-se quanto a Justiça foi capaz de submeter-se a interesses políticos e pressões de opinião. Por outro, vê-se um indício de retorno da alta magistratura à Justiça. É preciso mesmo, e talvez com urgência, em tempo de ajudar os estudantes a salvar nas ruas este país”, conclui Janio. Para ler sua coluna na íntegra, clique aqui.