“O Bom Professor” começa com um sabor de “já vi este filme antes, e não faz muito tempo”.
Por Celso Sabadin, compartilhado de Planeta Tela
O filme mostra a história Julien (François Civil), o sujeito do título, que leciona no ensino médio numa escola francesa cuja maioria dos estudantes vem das classes menos favorecidas. Logo, na lógica do cinema europeu, são imigrantes ou descendentes de. Sim, Julien é aquilo que se convencionou chamar de “white savior”.
Certo dia, ao explicar para a sua classe o significado da palavra “asteísmo” (atenção, revisão: é asteísmo mesmo, e não ateísmo), Julien faz um elogio simbólico à beleza de sua aluna Leslie (a estreante Toscane Duquesne). Os colegas dão risada, a menina fica envergonhada e – voilà – está armada a situação ideal para que o professor seja acusado de assédio sexual.
Os cinéfilos mais atentos provavelmente já notaram algo parecido com a premissa do nórdico “A Caça”, estrelado por Mads Mikkelsen. Mas as semelhanças entre ambos se restringem mesmo às primeiras cenas, nada mais. “O Bom Professor” trilha outros caminhos, mostrando a resistência da direção da escola em dar suporte ao protagonista, a (quase inacreditável) união de professores e professoras que se forma para defender Julien, e as consequências da acusação para a vida pessoal dos envolvidos.
O roteiro de Audrey Diwan e Teddy Lussi-Modeste (este também diretor do filme) elege como antagonista principal não a autora da denúncia, mas sim Steve (Armindo Alves de Sá), o truculento irmão mais velho de Leslie. Não consegui encontrar maiores referências sobre este ator de nome tão português, mas evidentemente, dentro da intensa campanha que o cinema europeu move sistematicamente contra a cultura islâmica, o personagem Steve, o vilão, é árabe. Nada de novo sob o Arco do Triunfo.
Coproduzido por França e Bélgica, “O Bom Professor” é baseado em caso real acontecido com o próprio diretor do filme. A estreia em cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Niterói, Brasília e Salvador é quinta-feira, 20/03.