Marcos Augusto Gonçalves, da Folha, e William Waack – sempre ele – destilam etarismo para defender o “mercado” e cunham impropérios contra Lula para serem usados pelos fascistas no esgoto das redes sociais
Por Plinio Teodoro, compartilhado de Fórum
O saudoso Paulo Henrique Amorim – que morreu lúcido, em 2019, aos 77 anos, um a menos que os atuais 78 de Lula – definia como “colonistas” os jornalistas do PIG, o Partido da Imprensa Golpista, como aqueles “que se prestam ao serviço de serem piores que os patrões”. Uma espécie de ser mais realista que o rei, seja por “carreirismo” ou por servilismo ao sistema financeiro, que distribui prendas para os autores de bajulações em seus espaços na mídia liberal.
O conluio entre a mídia liberal – financiada pelo aparato propagandístico dos EUA, especialmente durante a Guerra Fria – e os endinheirados entrincheirados na “direita liberal” serviu de base para o recrudescimento do fascismo.
Os discursos de ódio nas redes – seja de trumpistas ou de bolsonaristas – apenas amplificaram o que foi produzido por décadas na mídia liberal. O fantasma do “comunismo”, por exemplo, é obra cunhada nas redações estadunidenses há décadas, propagada pelo mundo pelos veículos e colonistas servis aos interesses do financismo.
E, como diz Eduardo Bolsonaro (PL): “acontece nos EUA, acontece no Brasil”.
Nesta quarta-feira (3), Jair Bolsonaro (PL) importou a ofensiva de Donald Trump, que acusa Joe Biden de senilidade, para o Brasil.
“Qualquer inocente sabe que o filho do sistema não está com suas faculdades mentais normais”, disse, referindo-se a Lula.
Cerca de 24 horas depois, os colonistas da Folha de S.Paulo, Marcos Augusto Gonçalves – que já atuou como editor de “Opinião” -, e do Estadão, o racista William Waack, ecoaram os ataques etarista do ex-presidente fascista, que está sendo indiciado pela Polícia Federal (PF) furto de joias e fraude na carteira de vacinação.
“Bengaladas no mercado”
De forma baixa, o “colonista” da Folha destila o preconceito contra o presidente para defender os ataques especulativos de banqueiros e do sistema financeiro – encarnados no presidente do Banco Central, o bolsonarista Roberto Campos Neto – ao dizer que o “efeito Biden vai batendo em Lula, que terá 80 na eleição”.
Após dizer que a “repetição” do discurso de Lula contra a hegemonia do discurso financista, que há décadas aumenta o fosso da desigualdade no Brasil e no mundo, como “comportamento ranzinzas e irascíveis”, Gonçalves diz que usa “uma espécie de viagra verbal” nas críticas ao presidente do BC e aos especuladores.
“Daí a sair distribuindo bengaladas no mercado, em banqueiros e nas elites empresariais vai uma longa distância”, escreve o colonista, do alto da pujança de seu texto para adular o “mercado”.
Vomitando adjetivos preconceituosos para servir aos fascistas nas redes sociais – “aiatolá do progressismo”, “ególatra, irritadiço e avesso a críticas”, o editor da Folha clama para que Lula abra mão da candidatura à reeleição em 2026.
Gonçalves já coloca como alternativa o nome de Fernando Haddad, ministro da Fazenda, que tem se mostrado mais suscetível aos desejos do sistema financeiro, especialmente aos cortes na Educação, Saúde e no aumento real do salário mínimo – principal foco da queda de braço de Lula com os agentes do “mercado”.
“Biden da Silva”
No Estadão, Waack – que foi demitido após ato escancarado de racismo no Jornal da Globo – segue com os impropérios contra o presidente, ecoando o “apelido” dado pelos fascistas para destilar o etarismo: “Lula de ‘Biden da Silva’ está ganhando tração nas lacrações na internet”.
Após discorrer, como “doutor”, que “Biden é uma vítima clara de senilidade, definida como doença degenerativa crônica que afeta a memória, o raciocínio e o comportamento de pessoas idosas”, Waack diz que o “problema” de Lula não é a “condição física”, mas de “de sua própria visão dos fatos”.
O colonista, então, diz que Lula não “parece entender” o cenário econômico ao dizer que “ele acha que as oscilações típicas de preços de ativos – desde sempre motivadas por expectativas – não passam de ‘conspirações’ e ‘especulações’, incentivadas pelo BC dirigido por um bolsonarista”.
Waack, no entanto, não diz que essas “expectativas” econômicas – que embasam, por exemplo, a ata do Copom sobre a taxa de juros – são tiradas do boletim Focus, pesquisa semanal do mercado feito pelo BC junto a um seleto time de agentes do sistema financeiro. Os mesmos que abastecem a “própria visão de mundo” dos colonistas da mídia liberal.
O jornalista ainda tem a desfaçatez de citar o lawfare da Lava Jato contra Lula para tentar explicar a “senilidade” das ideias do ex-presidente.
“O avanço da idade, e os fatos traumáticos recentes da vida (580 dias na prisão), acentuaram em Lula o apego a esquemas mentais que ele repete desde que surgiu na cena política, meio século atrás. É basicamente a divisão do mundo entre ‘eles’ e ‘nós’, entre ‘ricos’ malvados e ‘pobres e trabalhadores’ vítimas, descrição que ele aplica também ao cenário internacional”, escreve.
Com ares de “modernidade”, Waack tenta colocar um ponto final na histórica luta de classes, que se aprofunda a cada dia e faz surgir seres abjetos, como Bolsonaro e Trump, para defender os interesses do neoliberalismo – que se mostra sua cara fascista quando encurralada.
Folha, Estadão e seus colonistas mostram, na verdade, o contrário: Lula segue lúcido e suas ideias imprescindíveis para se contrapor à versão “moderna” do escravismo – defendido há mais de um século pela mesma mídia liberal – para drenar cada dia mais recursos públicos à uma pequena parcela da burguesia a quem eles adulam.