Com a nossa esperança não se brinca

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Por Adriana do Amaral, jornalista

Um anúncio interrompe a minha música, a minha leitura, a minha viagem, a minha busca. É o governo federal prestando contas, ou seria buscando votos?




A propaganda oficial invade os espaços midiáticos, usando a verba pública, apesar do Teto de Gastos que apertou os demais orçamentos no osso. Aquele mesmo que virou comida para o povo brasileiro e mesmo assim custa o olho da cara.

“Agora o brasileiro tem motivos para ter esperança”, diz o narrador, apresentando ações/realizações do governo Bolsonaro, e a sua Pátria A(r)mada Brasil: políticas pública inclusivas, combate à pobreza, fome, Covid-19, à falta de moradia e por aí vai. Tanta inverdade!

Sabemos que as raras ações do atual governo em prol do povo brasileiro resultam de muito trabalho social e cobrança popular. Nenhuma política pública foi pensada socialmente e quando ela chegou ao beneficiário foi reduzida ao limite mínimo possível. E os números apresentados na propaganda? Para inglês ver.

Governo para todos? Basta dar uma volta em qualquer cidade do Brasil para testemunhar a carestia do povo brasileiro. E pesquisar um pouco sobre o enriquecimento de uma parcela da população.  

Chama a atenção principalmente o uso – indevido – da palavra esperança. Pelo dicionário Oxford, um substantivo feminino: sentimento de quem vê possível a realização daquilo que se deseja; confiança em boa fé.

É imoral mentir assim para o povo brasileiro no final do segundo tempo de mandato. Mas eles mentiram o tempo todo, não é mesmo? Quem acredita na facada – ou circunstâncias dela?

O mais curioso é que a palavra esperança remete ao projeto de governo do Partido dos Trabalhadores, inspirado no verbo “esperançar”, tão analisado e debatido pelo Patrono da Educação Brasileira, Paulo Freire.

Esperançar, segundo verbete do mesmo dicionário quer dizer: dar ou ter esperança; animar (-se), estimular (-se), esperançar (-se). Esperançar dá trabalho e requer uma construção coletiva.

Paulo Freire repetia que os “homens aprendem em comunhão” e que dialogar é preciso, sempre a partir da troca, pois não existe conhecimento melhor do que o outro. Foi o brasileiro que ensinou ao mundo todo que um mais dois é capaz de mudar realidades. O intelectual do povo que escreveu “Pedagogia da Esperança” e “Pedagogia do Oprimido” dentre tantas obras que precisar ler ou reler.

Enganar o povo brasileiro, com verba pública, a partir da ilusão da esperança e a falta de comprometimento? Iludir o eleitor brasileiro inspirando-se no candidato adversário? É demais para mim.

É preciso ter esperança. Mas tem de ser esperança do verbo esperançar.  Por que tem gente que tem esperança do verbo esperar.

Esperança do verbo esperar não é esperança, é espera.

“Ah, eu espero que melhore, que funcione, que resolva”.

Já esperançar é ir atrás, é se juntar, é não desistir. É ser capaz de recusar aquilo que apodrece a nossa capacidade de integridade e a nossa fé ativa nas obras.

Esperança é a capacidade de olhar e reagir àquilo que parece não ter saída. Por isso, é muito diferente de esperar; temos mesmo é de esperançar. (Paulo Freire)

…Brincar é uma palavra que deriva da esperança

E essa esperança quando vinga a gente alcança… (Cabeça Sem Tampa, Saci Wèré. Esdras Nogueira)

Adriana do Amaral, jornalista profissional, doutoranda em comunicação social.

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