Com andam o General da Banda e o ensino no Brasil

Compartilhe:

Por Luiz Antônio Simas, Facebook – 

Rápidas observações sobre a aprovação da legalidade do ensino confessional pelo STF e as exortações do General Mourão sobre as heranças indígenas e africanas.

1 – Não há detentores do monopólio do saber, da inteligência, da beleza estética ou da verdade. Isso deveria ser um dado para começarmos a falar de educação. As sociedades contemporâneas são complexas e heterogêneas. A escola, por isso mesmo, deve pensar permanentemente o dissenso criativo e o convívio entre diferentes com direitos correlatos. E para isso, a escola precisa discutir, debater e fomentar ideias da forma mais plural possível. A legalização do ensino confessional – em descarado lobby cristão articulado pela santa madre – em um estado supostamente laico é o inverso disso.




2 – Um indivíduo e um grupo de pessoas podem sofrer um dano irreparável se a gente ou a sociedade, ou a escola que os rodeiam lhes mostram como reflexo, uma imagem degradante, limitada e depreciada sobre eles. Fanon falava do racismo simbólico, que desqualifica saberes dos subalternizados e incute neles a noção da inferioridade de suas culturas como verdade indiscutível.

3 – Escolas podem destroçar facilmente a estima dos educandos e realizar a tarefa da degradação dos corpos. Podem libertar, mas podem fabricar gentes doentes e desencantadas aos montes.

4 – A aberração produzida pelo STF em relação ao ensino confessional se junta ao discurso do General Mourão – que declarou que o Brasil precisa se livrar das heranças indígenas e africanas – como peças do mesmo quebra-cabeças.

5 – O campo imaginário em que trafegam a autorização para o ensino confessional e a pregação racista do general é o mesmo. Ele é filho da nostalgia de um Brasil de ferro, brasa, mel de cana, pelourinhos, senzalas, terras concentradas, aldeias mortas e tambores calados. Misture a arrogância dos doutos bacharéis, a inclemência dos inquisidores, a sórdida piedade dos civilizados, a truculência dos oligarcas, a certeza dos ungidos e o chicote dos capatazes. É daí que vem isso.

6 – Vou reproduzir que escrevi faz tempo: o projeto de normatização de um Brasil de horrores, para que seja bem sucedido, precisou de estratégias de desencantamento do mundo e aprofundamento da colonização dos corpos. É o corpo, afinal, que sempre ameaçou, mais do que as palavras, de forma mais contundente o projeto colonizador fundamentado na catequese, no trabalho forçado, na submissão ostensiva da mulher e na preparação dos homens para a virilidade expressa na cultura da curra: o corpo convertido, o corpo escravizado, o corpo feito objeto e o corpo como arma letal. O Brasil confessional dos mourões é um país de corpos doentes, condicionados e educados para o horror como empreendimento de larguíssima escala.

7 – Estamos na grita e eu não desisto. Tem jurema no fundo da cuia para que a gente continue rodando o babaçuê. Pra bom entendedor: meu mourão é o da catucada por baixo do General da Banda.

cofrinho campanha cópia

Curta nossa página no Facebook e acompanhe as principais notícias do dia

O Bem Blogado precisa de você para melhor informar você

Há sete anos, diariamente, levamos até você as mais importantes notícias e análises sobre os principais acontecimentos.

Recentemente, reestruturamos nosso layout a fim de facilitar a leitura e o entendimento dos textos apresentados.
Para dar continuidade e manter o site no ar, com qualidade e independência, dependemos do suporte financeiro de você, leitor, uma vez que os anúncios automáticos não cobrem nossos custos.
Para colaborar faça um PIX no valor que julgar justo.

Chave do Pix: bemblogado@gmail.com

Posts Populares
Categorias