Com Bolsonaro, mentira é instrumento da morte, diz Hildegard Angel

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Compartilhado de Tutameia

“Estamos repousando sobre um cenário de ficção, de mentiras. Todas as ficções são válidas. Todas as mentiras são aceitas. Estamos vivendo numa irrealidade. Isso é desesperador. Sobre tudo isso, temos a pandemia em que a mentira se torna um instrumento de morte. De centenas de milhares de mortes. A mentira se torna um instrumento de morte porque na condução dessa pandemia não existem fatores científicos que prevaleçam. Prevalecem as versões: de que não faltam leitos, de que não faltam UTIs, de que não falta atendimento, de que as covas estão vazias, de que os caixões estão vazios, de que há medicamentos miraculosos, que não existem, que o distanciamento social é uma bobagem, que a pandemia é uma gripezinha. A mentira foi instrumentalizada como uma defesa do governo, já que ele não tem realmente capacidade de lidar com isso”.

O diagnóstico é da jornalista Hildegard Angel em entrevista ao TUTAMÉIA na qual avalia a situação da política e da mídia do país. Acompanhando as redes sociais, ela fala do seu desalento ao verificar como as pessoas acreditam nas mentiras divulgadas em massa pela internet. “As pessoas estão se achando no melhor país do mundo, que esse governo é um sucesso. Elas acreditam! Isso me infelicita. Estamos vivendo no reino da fantasia. Não se dá espaço à cultura. A ciência é a do oportunismo e do arrivismo”, diz.

“Como há pessoas despreparadas, sem qualquer vínculo de afeição com o nosso país, de responsabilidade! É um ambiente de infelicidade profunda. Não há como não estar ansioso, deprimido e infeliz nesse país. Se você tem alguma responsabilidade em relação ao Brasil, aos brasileiros e às suas perspectivas pessoais, você não pode estar feliz com esse país de agora. Estamos entregues a uma pessoa que confessa que não sabe nada. É como se pisássemos sobre as águas. Não temos chão, um norte, uma esperança. Não temos uma condução rumo à solução dos problemas mais elementares. Estão desmantelando o país, desmontando as estruturas, as instituições. É o caos absoluto. Estão desmontando as nossas esperanças que foram tão construídas com tanta dificuldade. O Brasil que parecia que iria sorrir para nós com o Pré-Sal, com educação e saúde para todos. Eu me sinto refém de um momento horrível, desalentador, infeliz”, desabafa.




Hildegard Angel (esq.) e a irmã, Ana Carolina, com Zuzu Angel e Stuart em foto do álbum de família

Hildegard Angel é filha de Zuzu Angel e irmã de Stuart Angel Jones, ambos assassinados pela ditadura militar. Nesta entrevista (confira no vídeo acima e se inscreva no TUTAMÉIA TV), ela trata da luta da família por memória e justiça e traça paralelos entre aquele momento e o atual. Profunda conhecedora dos meandros do ela foi uma das mais importantes colunistas sociais do país durante décadas, Hildegard afirma que a mesma elite que apoiou a ditadura militar, agora apoia Bolsonaro. E por quê?

“O básico é o medo. É a manipulação do medo. O medo da elite é perder o que tem, seja muito seja pouco seja mais ou menos. Ter suas casas invadidas, ter que pagar impostos sobre o seu pequeno apartamentinho. Essa pequena elite que não é elite quer ter roupas importadas, não quer prestigiar a indústria brasileira. É uma elite totalmente colonizada, culturalmente e intelectualmente, em todos os aspectos. Ela não gosta do Brasil. Ela acha o brasileiro feio, mas ela se acha linda. Essa elite tem medo de descer do seu status, tem medo de perder o que possui e medo do pobre. Essa elite morre de medo do pobre. De medo da violência do pobre. O pobre é o inimigo, é um inimigo potencial. É um inimigo permanente. Essa elite queria queimar todas as favelas, todas as comunidades, fazer uma limpeza, uma eugenia geral. Essa é a elite brasileira. Essa elite fecha totalmente com o pensamento do Bolsonaro. Essa elite não é só o 1%. É a classe média, a classe média baixa, a classe semi-média. Essa é a elite. E com os evangélicos os católicos também fazem isso, mas com menor eficiência [há uma] lavagem cerebral, uma sofreguidão pelo dízimos, um apostolado do materialismo. Tudo isso destruiu a identidade do brasileiro”.

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