Com chuvas cada vez mais frequentes, governo de SP pouco fez para evitar enchentes

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Para especialistas, não basta culpar somente a natureza, é preciso uma solução. Prefeito Ricardo Nunes, afirmou que não há o que fazer para deter a força da água na capital nos últimos dias

Por Walber Pinto – CUT Nacional e Laiza Lopes – CUT São Paulo | Editado por: Rosely Rocha, compartilhado de CUT




Com os eventos climáticos extremos cada vez frequentes no Brasil, esperava-se que os municípios brasileiros se preparassem melhor para esses fenômenos devastadores. Na capital mais rica do país, São Paulo, pouco se fez para minimizar os impactos da crise climática. O resultado é o uso das redes sociais pela população para mostrar sua indignação com as cenas de destruição, de carros empilhados nas ruas, lama e a dor das famílias que perderam tudo ao terem suas casas invadidas pelas águas.

Especialistas têm afirmado que culpar somente a natureza pelas mudanças climáticas não é a melhor solução, já que o preparo das cidades brasileiras para esse evento ainda é precário.

Em São Paulo, no último dia 24, véspera do aniversário da cidade, moradores viveram um dia de terror após o maior temporal desde 1988, que durou apenas uma hora derrubou muros, arrastou carros, invadiu casas e estações de metrôs e passageiros tiveram que subir no corrimão para não serem levados pela correnteza. Uma pessoa morreu.

Para Rosalina Amorim, secretária nacional de Meio Ambiente da CUT, as tragédias que ocorrem durante os eventos climáticos severos poderiam ser evitadas se não fosse a negligência dos governantes. Ela afirma que medidas simples poderiam salvar vida.

“As mudanças climáticas e os eventos extremos, como enchentes e secas, não são novidade. O que causa indignação é que, apesar dos inúmeros alertas e do histórico de tragédias, os governantes continuam negligenciando a necessidade de prevenção e planejamento urbano”, diz.

A situação ainda tende a piorar se a prefeitura continuar atendendo aos pedidos das construtoras que têm derrubado árvores nas cidades.  Nos últimos dois anos foram derrubadas 45 mil árvores na capital, com previsão de plantio de 157 mil mudas, mas como as árvores demoram anos para crescerem, até lá a população sofre com o descaso e as mazelas do desmatamento.

Faltam planos de contigência

Dados da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) mostram que, de 2.977 cidades de estados que registraram desastres climáticos nos últimos anos, a maioria (60%) não tem planos de risco ou de contingência. O levantamento inclui municípios de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Bahia e Espírito Santo.

Na Bahia, segundo a pesquisa, de 417 prefeituras, apenas 25 (6%) produziram planos de riscos. No Rio Grande do Sul, de sete municípios da Região Metropolitana de Porto Alegre atingidos pelas cheias, apenas dois se prepararam.

No ano passado, a tragédia vivida pelos gaúchos matou mais de 180 moradores, deixaram milhares de desabrigados, levaram serviços ao colapso e comprometeram a infraestrutura. O drama deveria ter surtido efeito pedagógico aos gestores municipais, o que não correu até o momento.

Nunes culpa força da água

O prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB-SP), que tem sofrido severas críticas pela falta de investimento contra as enchentes na cidade, disse ao Portal G1 que não havia o que fazer para deter a força da água.

Não é a primeira vez que a cidade vive situações dramáticas como as que ocorreram na semana passada. Em 2024, cinco pessoas morreram no estado e mais de 2 milhões de consumidores ficaram sem energia elétrica depois das fortes chuvas e ventos recorde de 107,6 km/h.

Os volumes excepcionais de chuva costumam servir de desculpa para justificar o despreparo dos gestores, mas na entrevista Nunes não explicou quais as ações e investimentos da prefeitura para minimizar os danos causados pelos temporais.

Expresso minha solidariedade ao povo de São Paulo, que sofre com as enchentes e deslizamentos de terra. O prefeito Ricardo Nunes deve explicações à população sobre o destino dos recursos destinados à prevenção de desastres”- Rosalina Amorim

SP deixou de investir em verbas contra enchente

Na maior metrópole da América Latina, a falta de investimento e políticas públicas para combater eventos climáticos extremos se traduz nos dados: entre 2021 e 2023 a gestão do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), deixou de investir R$ 1,47 bilhão em verbas orçadas para o enfrentamento às enchentes na cidade. Foram R$ 5,65 bilhões orçados pela gestão naquele período.

Dados de uma reportagem da Agência Pública apontam que, em 2024, a prefeitura orçou R$ 63,3 milhões para obras e serviços preventivos em áreas de risco geológico. Do montante, só R$17,2 milhões foram usados até outubro. Obras de caráter emergencial tinham um orçamento de R$ 28 milhões que, depois, foram reduzidos para R$ 10,4 milhões. 

Outro dado preocupante é que o plano de riscos de chuva municipal foi finalizado apenas em dezembro de 2024, sendo que é exigido por lei há 10 anos. A secretária de Meio Ambiente da CUT-SP, Solange Ribeiro, traz alguns exemplos de projetos municipais que reforçam o descaso no combate às mudanças climáticas. 

“Ricardo Nunes segue a linha de um urbanismo ultrapassado, ineficaz e antiambiental. Isso é o que vemos no projeto do Túnel da Sena Madureira {zona sul da cidade]; na derrubada de 10 mil árvores de uma Área de Preservação Ambiental para ampliação do aterro e construção de um incinerador de lixo em São Mateus [zona leste], entre outras iniciativas destrutivas ao meio ambiente”, pontua a dirigente. 

Algumas outras medidas antiambientais ressaltadas por Solange Ribeiro são: a renovação dos contratos de coleta de lixo sem metas de reciclagem, apoio à privatização da Sabesp, a companhia de água do estado, e a venda da cidade para a especulação imobiliária, via revisões do Plano Diretor.

No âmbito estadual, o governador do Estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), segue a mesma linha: o orçamento de 2025 para sistemas de drenagem e combate a enchentes sofreu queda. O valor previsto para o ano é de R$314 milhões, uma redução de 15% quando comparado a 2024. O orçamento foi aprovado em dezembro pelos deputados e deputadas da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), com 63 votos favoráveis e 22 contrários – sendo a maioria favorável composta pela bancada aliada ao governador.

Para os próximos dias espera-se, infelizmente, mais sofrimento da população. A Defesa Civil do estado de São Paulo emitiu alerta na terça-feira (28) para alagamentos, enchentes e deslizamentos em diversas regiões do estado por causa de chuvas fortes até o próximo domingo (2/2). De acordo com a previsão, as áreas mais afetadas incluem a Grande São Paulo, o Vale do Ribeira, o Vale do Paraíba, o litoral paulista e regiões do interior, onde já foram registrados impactos como enchentes e deslizamentos.

Medida do governo federal para reduzir tragédias

Em dezembro de 2023, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei Complementar 14.750, que aperfeiçoa a Lei 12.608, sobre a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil. A legislação determina que municípios e estados adotem medidas para reduzir riscos de desastres. No caso dos estados, elas devem ser atualizadas a cada dois anos.

Com as mudanças climáticas, os eventos extremos ficaram mais severos e frequentes no mundo inteiro. Não há perspectiva de que a situação vai melhorar, já que o planeta está cada vez mais quente.

Segundo especialistas a única solução é se preparar para enfrentar as mudanças climáticas, e isso demanda planejamento.

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