Por Eric Nepomuceno em Nocaute –
Ancorado em um eleitorado pífio, Temer faz o que faz: privatiza setores estratégicos e vende reservas amazônicas. E agora sua tropa retoma negociações para comprar votos e escapar da segunda denúncia. São tempos de horror.
Michel Temer. Eu fui dar uma olhada no desempenho eleitoral deste camarada quando ele não estava a reboque da Dilma.
A última eleição que ele disputou foi em 2006 e se elegeu pelo PMDB deputado federal por São Paulo. Ele teve 99.046 votos. Dos 70 deputados que São Paulo elegeu, ele foi o número 52.
Quer dizer, ele só conseguiu suplantar 18 outros candidatos. E do PMDB, ele foi o antepenúltimo. Quer dizer, entrou por um raspão. Michel Temer, 99.046 votos.
Para vocês terem uma ideia, naquele ano, Paulo Salim Maluf, deputado eleito, claro, mais votado por São Paulo teve 350 mil votos.
É escorado nesta eleição, neste eleitorado pífio, que ele está fazendo o que faz.
Está fazendo o que faz. A última agora, privatizar, por exemplo, o Aeroporto de Congonhas. Eu fico me perguntando: mas será que o Estado brasileiro precisa ter, via Infraero, o aeroporto metropolitano de São Paulo, o segundo de maior movimento, às vezes o primeiro, movimento aéreo no Brasil.
Não sei. O que eu sei é que Congonhas deixa por ano cinco bilhões de reais pra Infraero, um dinheiro que ajuda a manter aeroportos regionais deficitários. Quem comprar Congonhas vai levar também esses aeroportos deficitários?
A Eletrobras. Privatizar a água, energia elétrica, rede de transmissão?
Agora, tem uma coisa que supera qualquer aberração, pelo menos das aberrações cometidas por Temer e sua quadrilha até agora. Essa questão das reservas do Amazonas. Eles vão privatizar uma extensão superior à da Dinamarca. Imaginem vocês. Tem um escândalo aí. É impossível falar desse governo sem falar em escândalo. Cinco meses antes, quatro empresas, das quais duas canadenses, já sabiam que isso ia acontecer.
É no meio desse cenário de turbulência que Michel Temer está passando estes dias na China, em uma reunião dos BRICS. Onde uma vez mais ele vai ser ignorado, onde uma vez mais vamos constatar o isolamento do Brasil no cenário global.
Ele viajou sem a tropa de choque. Henrique Meirelles, Eliseu Padilha, Moreira Franco. Esses ficaram por aqui. Para quê? Costurar alianças no Congresso – leia-se negociar a compra de mais votos, porque vem aí mais uma denúncia do Rodrigo Janot contra ele. É um espiral sem fim, como todo espiral, só que essa é de horror.
Eu bem que queria falar da turnê do grupo da Deborah Colker, grande coreografa e bailarina brasileira. Falar da temporada do grupo Corpo, falar do disco “Dos Navegantes”, que o Edu Lobo lançou faz um mês e meio, dois meses. Falar dessa maravilha que é o disco novo Caravanas, do Chico Buarque. Falar do filme do Walter Carvalho, falar o filme do Selton Melo. Mas não tem como. Não tem como, não tem como. São tempos de horror. Tempos de horror.
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