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No primeiro semestre desse ano, os furtos caíram em 32% em relação ao mesmo período do ano passado, quando não existia o programa; desde janeiro, nenhum carro foi roubado na região
Do SpressoSP
Os índices de criminalidade registrados na região conhecida como Cracolândia, no bairro da Luz, caíram no primeiro semestre deste ano em comparação ao mesmo período do ano passado. Crimes como furtos gerais e furtos de veículos diminuíram, respectivamente, 32,3% e 47,4% na comparação entre os primeiros seis meses de cada ano. Os dados são do Sistema de Informações Criminais (Infocrim), da Secretaria Estadual de Segurança Pública, com base nos registros em 14 ruas da região. A queda coincide com a implementação do programa De Braços Abertos, adotado pela Prefeitura de São Paulo no início deste ano, que oferece emprego, renda, moradia e tratamento a dependentes do crack.
No primeiro semestre do ano passado, quando ainda não existia o programa que atende mais de 400 dependentes químicos, foram registrados 19 furtos de veículos e 319 furtos gerais na região. No mesmo período deste ano, foram dez furtos de veículos e 216 furtos de pessoas. Em toda a cidade, o número de furtos de veículos teve ligeira alta de 5,6% (de 24.016 para 25.370) e o de furtos gerais registrou queda de 1,4% (de 100.289 para 98.897), inferior a apontada na Cracolândia.
“Isso prova que quando o Estado como um todo, com os governos estadual, municipal e federal ocupam um espaço com um trabalho integrado, não só com segurança, mas com assistência social, saúde, cultura, esporte e lazer, os resultados são positivos. São Paulo tomou para si de volta aquela região que tinha todos os aspectos para ter os maiores índices de criminalidades”, afirmou o secretário municipal da Segurança Urbana, Roberto Porto.
O número de roubos de veículos na Cracolândia neste primeiro semestre chegou a zero, enquanto no mesmo período do ano passado, foram 11 registros. Em toda a capital paulista, os casos de roubos de carros tiveram alta de 9,4% (de 24.131 para 26.420).
Já o número de roubos gerais na região caiu apenas 4,1% em termos relativos na Cracolândia, de 196 casos no primeiro semestre de 2013 para 188 registros neste ano. Apesar disso, em toda a cidade, os números de roubos cresceram em 38% (de 59.783 para 82.490) no mesmo período em comparação com o ano passado. “Nossa grande arma é o trabalho conjunto. Além do trabalho diuturno das equipes de saúde e assistência social, a iluminação é verificada e revisada frequentemente. Hoje, a região tem uma das maiores forças de trabalho de varrição na cidade. A guarda e a polícia militar trabalham juntas. Por isso, essa transformação está acontecendo”, disse Porto.
Combate ao tráfico
O único índice criminal que aumentou na região da Cracolândia foi o de prisões por tráfico de entorpecentes, que saltou 144,2%, de 52 registros no primeiro semestre do ano passado para 127 no mesmo período deste ano. O crescimento acontece, segundo o secretário Porto, justamente por conta da maior presença de agentes de segurança na região.
A Guarda Civil Metropolitana (GCM) conta com mais de 50 agentes na região com nove viaturas convencionais, duas do programa “Crack, é possível vencer”, nove motocicletas, também duas do programa federal. Uma unidade móvel de videomonitoramento, que é um micro-ônibus do programa “Crack, é possível vencer” também atua na região.
“Há uma preocupação de diferenciar o trabalho dado ao usuário de drogas e ao traficante. Se o usuário é tratado com dignidade, somos implacáveis em relação ao tráfico. Combater o tráfico de drogas é um dos principais pilares desse programa”, disse Porto.
De Braços Abertos
Iniciado em janeiro deste ano, após acordo com moradores de 147 barracas que ocupavam as ruas Helvetia e Dino Bueno, o programa De Braços Abertos atende, atualmente, 422 beneficiários cadastrados. Por meio do programa, a Prefeitura de São Paulo oferece moradia em oito hotéis, três refeições diárias, oportunidade de emprego com renda de R$ 15 por dia, além de tratamento contra o vício com acompanhamento.
Mais de 120 pessoas estão em tratamento voluntário contra dependência química e dados do início de março apontam que o consumo de crack foi reduzido, em média, de 50% a 70%. De uma média inicial de 10 a 15 pedras por dia, o consumo passou à média de cinco pedras diárias, concentrado no período noturno, segundo os relatos.
O programa agora passa por um processo de descentralização da política pública iniciada na Cracolândia incluindo as subprefeituras da Vila Mariana, Lapa, Santo Amaro, Santana e Cidade Tiradentes, com adaptações conforme as características de cada região. “Os resultados na Cracolândia tanto são um estímulo que estamos replicando, com adaptações, em outras cinco regiões. Essa é a formular para conquistar espaços que estão perdidos ou degradados, em especial, pela concentração de dependentes químicos”, disse Roberto Porto.
Autonomia financeira
Com a evolução do programa, 23 beneficiários receberam o atestado médico de aptidão ao mercado de trabalho. No último dia 5 de agosto, após o acompanhamento feito por equipes de saúde e assistência social, 16 beneficiários foram encaminhados à empresa Guima Conseco para prestar serviços em equipamentos públicos municipais. Eles receberão R$ 820 por mês, vale refeição de R$ 9,10 por dia, cesta básica no valor de R$ 81,33 e Vale Transporte.
Do total de beneficiários cadastrados até o fim de julho, eram 273 homens, 149 mulheres e 28 crianças. Com o fim dos sete meses de programa, 12 usuários trabalhavam fora do programa, além dos 18 que atuam nas frentes de trabalho em órgãos municipais. Outros 228 seguem no serviço de varrição de ruas e 66 participantes estão no projeto Fábrica Verde, um curso de capacitação voltado à área de jardinagem, onde recebem noções de paisagismo, plantio de jardins comestíveis, produção de mudas e compostagem. Mais de 330 pessoas conseguiram novos documentos, 16 crianças foram inseridas em creches e três beneficiários ingressaram em cursos no Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec).