Em entrevista ao GGN, o especialista Francisco Teixeira explica como os militares de quadros médios foram contaminados pelo “morismo”
Por Cintia Alves, compartilhado do Jornal GGN
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A grande maioria dos membros do alto comando do Exército tem compromisso com a democracia e não embarcaria numa aventura golpista, mesmo que inflamada pelos protestos de bolsonaristas inconformados com a vitória eleitoral de Lula.
Já entre oficiais de quadros médios, sobretudo na Aeronáutica e Marinha, predomina o sentimento anti-Lula e o antipetismo, levanto à situação de “fragmentação nas Forças Armadas” que o País assiste atualmente.
Sinal dos tempos é que, antes mesmo de Lula tomar posse em 1º de janeiro de 2023, haverá troca no comando do Exército. O governo de transição também negociou antecipar a mudança do comando da Marinha, mas houve resistência.
A avaliação de que os militares estão divididos é de Francisco Carlos Teixeira da Silva, pós-doutor em História e Política Social, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Universidade Federal de Juiz de Fora, autor do livro “Dicionário de História Militar do Brasil, 1822-2022”, entre outros títulos.
Na noite de terça-feira (27), ao lado do ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão, Teixeira participou do programa TV GGN 20 Horas [assista abaixo], apresentado por Luis Nassif, para falar da relação dos militares com os acampamentos bolsonaristas, sobretudo o situado em frente ao QG do Exército, em Brasilia. De lá, saíram figuras acusadas de atos terroristas às vésperas da posse de Lula.
Segundo Teixeira, as Força Armadas estão “fragmentadas”, mas o alto comando do Exército é majoritariamente contra uma ruptura democrática. O que ocorre, porém, é que quadros médios da corporação – capitão, major, tenentes, etc – estão sob a influência do “morismo” – ou antipetismo – forjado nos idos pela Lava Jato.
“Há uma situação confusa. Uma grande maioria tem má vontade muito grande com a vitória do Lula, que é derivada do tempo de aproximação dos militares com Sergio Moro.”
Ex-ministro da Justiça e figura celebrada pela grande mídia, “Moro esteve praticamente em todos os comandos militares, em todas as solenidades, ganhou todas as comendas possíveis. Esse morismo dentro das Forças Armadas – que, de certa forma, lembra muito a tentativa de Carlos Lacerda de se aproximar dos militares – deu frutos, principalmente entre quadros médios (capitão, major, tenente-coronel, etc)”, explicou o professor.
Segundo ele, “hoje – dos 14 membros efetivos do alto comando do Exército, mais dois que estão lá, totalizando 16 – há uma maioria total, muito forte, contra os acampamentos e contra qualquer coisa que represente o rompimento da ordem, uma negação de qualquer aventura nesse sentido. O que não é igual nesses quadros médios.”
“Inclusive, alguns generais importantes, comandantes de regiões militares, apareceram sendo chamados de ‘melancia’, pois estavam disponíveis para deter ameaças. Então há fragmentação, sim, das Forças Armadas. Há predominância de pensamento anti-Lula, antipetista. Particularmente, na Aeronáutica é mais forte do que nas outras forças.”
Teixeira explica que a natureza do alistamento social de cada força guarda relação com a ideologia dos militares. “O Exército é muito mais popular, tem base em classe média e classe média-baixa, coisa que a Marinha e a Aeronáutica não têm. [Seus oficiais são de] camadas mais superiores da sociedade”, resumiu.