Comida grátis, carro de som: na cara da Aman, a estrutura e a coordenação dos atos golpistas

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Por todo o Brasil, voltam a acontecer nesta terça-feira, 15, Dia da República, inúmeras manifestações na frente de quartéis e outras organizações militares com as pessoas – muitas pessoas – levando na boca a palavra de ordem “SOS Forças Armadas” e, nas mãos, cartazes com a bandeira do Brasil em preto e branco e a inscrição “Brazil was stolen” (“O Brasil foi roubado”).

Por Hugo Souza, compartilhado de Come Ananás




Manifestações, numa palavra, golpistas, porque clamam por intervenção armada, militar, contra o resultado da eleição para a presidência da República. E clamam o que clamam com apoio dos comandos das três forças, inclusive por escrito.

Uma das organizações militares onde multidões golpistas voltam a se reunir nesta terça é a Academia Militar das Agulhas Negras (Aman). Não é qualquer uma. Localizada na pequena cidade de Resende, no Sul Fluminense, foi de lá que saíram aspirantes a oficiais, por exemplo, os futuros generais Augusto Heleno, Braga Netto e Paulo Sergio Nogueira, além do futuro capitão Jair Bolsonaro.

Come Ananás esteve na manhã desta terça na Aman. Ali, na frente, na cara da Aman, mais uma vez ficou evidente que por trás das manifestações golpistas que acontecem desde o Dia de Finados, na sequência dos bloqueios, há toda uma custosa estrutura de apoio à afluência e permanência de multidões na frente de quartéis e toda uma coordenação, toda uma regência organizada de uma turba em transe.

No gramado à direita do portão monumental da Aman, uma grande e concorrida barraca servia água, suco, cachorro-quente, maçãs, bananas e biscoitos. Uma estante repleta de ingredientes para refeições e centenas de embalagens de marmitex perduradas em ganchos indicavam que, mais tarde, seria servido o almoço. Quem sabe também o jantar.

“Tem comes e bebes ali. Será que é de graça?”, disse um patriota para outro patriota, a poucos metros da barraca, momentos antes ser servido por outra patriota – e, sim, tudo de graça – com um belo hot dog.

Por volta das 10h30, duas mulheres começaram a distribuir os cartazes em formato A4 com a bandeira do Brasil em preto e branco a hashtag #BrazilWasStolen. Foi com estes elementos gráficos que o ultradireitista argentino Fernando Cerimedo, ligado a Eduardo Bolsonaro, fez uma live direto de Buenos Aires na qual apresentou um relatório “apócrifo” com supostos indícios de “anomalias” nas urnas eletrônicas.

Minutos depois, quando os cartazes ainda estavam sendo distribuídos, dois carros abriram caminho entre as pessoas e pararam a poucos metros do portão da Aman. Um deles era um pequeno trio elétrico montado sobre um Chevrolet Montana da empresa Lazaro Som. O outro era um Ford F-250 que chegou tocando o hino nacional em potentes caixas altifalantes.

Assim que a picape Ford parou, uma das mulheres que distribuíam os cartazes “Brazil Was Stolen” se aproximou para conversar com o motorista. Em seguida, ela começou a falar ao celular. Parecia receber instruções.

Poucos minutos depois, do alto do carro de som da Montana, um homem ao microfone convocou as pessoas a se concentrarem bem na frente do portão da Aman e a erguerem os cartazes “Brasil Was Stolen”, para “a gente fazer uma foto”.

“Sentem-se, ponham a mão na boca e façam cara de enfezado”, orientou o locutor.

Feita a foto, o locutor avisou que às 15h todas as concentrações na frente de quartéis, por todo o Brasil, iriam iniciar uma oração. Em seguida, deu um serviço e não será nenhuma imprudência dizer que foi um serviço da organização: “pessoal, documentos perdidos, procurar na barraca da comida”. Depois, animou os patriotas com o grito da “nossa pauta”. Este:

Próximo à barraca da comida, um painel exibia um longo texto assinado pela “Nação Brasileira”. Era uma espécie de “tecla sap” para o relatório das Forças Armadas sobre a “fiscalização” das urnas eletrônicas feita pelos militares. Terminava assim: “Ao nosso ver, o relatório não mudou nada. Só deu ainda mais legitimidade à nossa luta”.

Na rotatória da Aman, que dá acesso ao túnel que passa sob a Dutra e dá no centro de Resende, alguns homens seguravam uma faixa com os dizeres: “Maçons a favor da liberdade. SOS FFAA. Resende-RJ”.

Bem ao lado, outras pessoas seguravam outra faixa. Esta, dizendo assim: “Se pode descondenar, nós vamos deseleger”.

E se na frente do caminhão vai agarrado o patriota da boleia, na traseira da picape do golpista quem vai colado é John Winston Ono Lennon: “A vida é aquilo que acontece enquanto fazemos planos para o futuro”.

John Lennon na traseira da possante do golpista!

Imagine…

Perto da picape, uma patriota que segurava o cartaz “Brazil Was Stolen” era a imagem – à imagem e semelhança – da nossa dor de perceber que, apesar de tudo que fizemos, de tudo que vivemos, neste país ainda acontecem coisas “em memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra”.

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