Nos últimos dias, alguns países da Europa, como Alemanha, Áustria e Reino Unido, começaram a registrar um novo aumento de casos de covid. Por ora, ainda não foi observada uma elevação sustentada no número de mortes pela doença nesses locais.
Compartilhado de BBC
De acordo com especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, dois fatores podem estar por trás desse repique: o espalhamento da variante BA.2, uma “prima-irmã” da ômicron, e o fim das principais políticas preventivas, como o uso de máscaras em lugares fechados.
Estudos feitos na Dinamarca indicam que essa variante BA.2 é 1,5 vez mais transmissível que a ômicron “original”, também conhecida como BA.1 — que, por sua vez, já era um dos vírus mais transmissíveis que surgiu no último século.
Na prática, BA.2 tem se tornado dominante em alguns desses países que apresentam aumento de casos agora: no Reino Unido, ela está presente em 68,6% das amostras positivas sequenciadas em laboratórios. Há poucas semanas, a BA.1 era majoritária nesses mesmos levantamentos.
A BA.2 também se espalhou pela Ásia e é uma das responsáveis pelos recordes absolutos de casos e mortes registradas em Hong Kong, China e Coreia do Sul recentemente.
Em algumas nações, o avanço de uma variante mais transmissível também foi impulsionado pelo fim das políticas restritivas que marcaram os últimos dois anos. Em muitos desses lugares, não há mais obrigatoriedade do uso de máscaras em lugares fechados, os programas de testagem em massa foram paralisados e caiu por terra a orientação de que pacientes infectados fiquem em isolamento.
Uma parte dos pesquisadores entendem que essas medidas foram abandonadas cedo demais. Outros entendem que o alívio na resposta à pandemia é razoável e esperado, considerando a diminuição da taxa de mortalidade geral por covid e a ampla disponibilidade de vacinas e tratamentos eficazes, ainda mais quando levamos em conta a realidade das nações mais ricas.
E vale lembrar aqui que o aumento de casos atual não é um fenômeno generalizado em todo o continente europeu: Portugal e Espanha, por exemplo, seguem com as estatísticas da covid em queda.
De acordo com os especialistas, isso pode ser explicado pelo fato de esses países terem uma espécie de “bagagem imunológica”, proporcionada pela combinação entre a alta cobertura vacinal e ondas maiores de casos de covid num passado recente.
Esse é o cenário oposto ao observado em locais como Alemanha e Áustria, onde a vacinação não avançou depois de atingir um certo patamar e não foi registrada uma alta transmissão do coronavírus nos meses anteriores.
Mas esse novo repique de casos já levou a um aumento de mortes por covid? Particularmente nos países europeus, por ora não é possível observar uma subida sustentada dos óbitos. Como os casos começaram a se elevar recentemente, será necessário aguardar mais algumas semanas para ver como isso poderá se refletir (ou não) em internações e mortes.
Também é cedo para dizer se essa situação que acomete partes da Europa se repetirá no Brasil: o país vive agora um momento de queda nos casos, nas hospitalizações e nos óbitos. É preciso observar como a chegada de dias mais frios, o alívio das medidas preventivas em várias cidades e Estados e o espalhamento da variante BA.2 vão influenciar nesse cenário interno da pandemia.