Como Bolsonaro difamou sexualmente uma jornalista e tirou o foco sobre celulares de miliciano morto

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Por Graciliano Rocha, compartilhado de BuzzFeed – 

Antes de sair do Alvorada e atacar jornalista, presidente mostrou preocupação que mensagens e áudios nos 13 celulares de Adriano Nóbrega sejam “forjados”. Nóbrega era próximo da família Bolsonaro.

Ao sair nesta terça (18) do palácio da Alvorada, o presidente Jair Bolsonaro proferiu ofensas de cunho sexual contra a jornalista da Folha de S.Paulo Patrícia Campos Mello, ecoando as mentiras ditas por um depoente da CPI das Fake News na semana passada.

“Ela [repórter] queria um furo. Ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim”, disse o presidente, rindo e provocando risadas dos apoiadores que presenciaram sua entrevista em frente ao Palácio da Alvorada.




O presidente repetiu as mentiras ditas por Hans River, ex-funcionário de uma empresa de disparos de WhatsApp, que acusou a jornalista Patrícia Campos Mello de ter oferecido sexo em troca de informação para uma reportagem. A abertura das comunicações entre a jornalista e a fonte mostrou que River mentiu à CPI – o que é crime.

Pouco antes da difamação, Bolsonaro havia sido questionado sobre o preço dos combustíveis e das críticas de 20 governadores, não respondeu nenhuma das perguntas, partindo para o ataque contra a jornalista e contra a oposição.

A mentira de cunho sexual contra a jornalista provocou uma onda de indignação na imprensa e solidariedade em favor da jornalista agredida. A Folha de S.Paulo divulgou uma nota em que defende a jornalista e repudiou o caráter das declarações do presidente.

“O presidente da República agride a repórter Patrícia Campos Mello e todo o jornalismo profissional com a sua atitude. Vilipendia também a dignidade, a honra e o decoro que a lei exige do exercício da Presidência”, diz nota do jornal.

A repercussão do insulto contra a jornalista teve o efeito de tirar o foco das redes sociais de uma das principais preocupações do presidente: investigação sobre a morte do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega, próximo da família Bolsonaro.

Reprodução- Adriano, em foto da Polícia Civil

Às 7h03 de hoje, antes de deixar o Palácio da Alvorada, o presidente expressou preocupação com a possibilidade de que mensagens e áudios nos celulares do ex-capitão do Bope, morto pela polícia da Bahia, sejam “forjados”. A polícia da Bahia apreendeu 13 celulares usados pelo miliciano, que estava foragido.

“Quem fará a perícia nos telefones do Adriano? Poderiam forjar trocas de mensagens e áudios recebidos? Inocentes seriam acusados do crime?”, postou o presidente na sua conta oficial do Twitter.

No mesmo fio, Bolsonaro também expressou preocupação com a autopsia do corpo do miliciano e voltou a insinuar, como já havia feito no mesmo final de semana, que o miliciano foi vítima de “possível execução” e “queima de arquivo”.

“A quem interessa não haver uma perícia independente? Sua possível execução foi ‘queima de arquivo’? (…) sem uma perícia isenta os verdadeiros criminosos continuam livres até para acusar inocentes do caso Marielle”, escreveu Bolsonaro, três horas antes de sair do Alvorada.

Pela execução da vereadora Marielle Franco está preso o suspeito Ronnie Lessa, apontado como ligado a Adriano Nóbrega no Escritório do Crime, uma organização de matadores profissionais com atuação no Rio.

Presidente insinuou execução e governador da Bahia lembrou “laços de amizade” da família Bolsonaro com milícias

Os celulares estão em poder das autoridades da Bahia, Estado governado por Rui Costa (PT), adversário do presidente.

No final de semana, Bolsonaro disse que Adriano Nóbrega teria sido vítima de uma execução sumária. O governador, que defendeu a ação policial, respondeu à insinuação de Bolsonaro, afirmando que a família do presidente tem “laços de amizade” com milícias do Rio.

A proximidade do miliciano com a família do presidente vem da década passada. Quando deputado federal, Bolsonaro defendeu Adriano publicamente mesmo depois de ele ser condenado por homicídio, em 2005.

O miliciano morto era uma peça importante na investigação sobre o esquema de desvio de salários de servidores pelo gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, no Rio. O filho do presidente, que hoje é senador, empregou a mãe e a ex-mulher do miliciano no gabinete da Assembleia Legislativa do Rio.

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