Por Jota A. Botelho, em Jornal GGN –
Don’t Be A Sucker (Não Seja Um Otário) é um curta-metragem antinazista produzido pelo Departamento de Guerra Norte-Americano em 1943 e relançado em 1947, e que voltou a adquirir importância em 2017 após os violentos protestos da extrema-direita na cidadezinha de Charlosttesville, no Estado da Virgínia, e que viralizou na internet segundo mostra o vídeo postado pela BBC Brasil abaixo.
COMO DISSEMINAR O ÓDIO – Don’t Be A Sucker (Não Seja Um Ótario)
O filme foi produzido pelo Departamento de Guerra dos EUA, em 1943, como propaganda antinazista para alertar os norte-americanos sobre os perigos do preconceito e da divisão das minorias disseminando o ódio pelo país. Com finalidade educativa, sendo reeditado em 1947, logo após sua abertura que nos mostra a maravilha que é viver num país LIVRE, neste caso a AMÉRICA dos americanos, claro, para em seguida, numa linguagem simples e direta, um homem irado se dirige a uma pequena multidão e começa a disseminar o ódio, declarando seu fervoroso e fajuto nacionalismo: “Eu conheço os fatos. Amigos, eu sou apenas um americano comum. Mas sou um americano AMERICANO. Vejo negros tirando empregos que pertencem a mim e você… Isso aqui vai virar um caos”. E tira um panfleto do bolso e passa a culpar os negros, fazendeiros estrangeiros, católicos, maçons e imigrantes em geral pelos males da nação. Um ouvinte da plateia fica impressionado com seu discurso e estava quase concordando com ele, mas depois que o ‘patriota’ elege os maçons como inimigos, o que lhe provoca a ira, reclama: “Qual é o problema com os maçons? Eu sou um maçon! Um ex-professor universitário na Alemanha nazista, de origem húngara, provavelmente um judeu, agora cidadão americano, que estava ao seu lado e havia dito anteriormente: “Já ouvi esse tipo de conversa antes, mas nunca esperei ouvir isso na América”. E agora lhe explica: “Eu vi o que esse tipo de conversa pode fazer. Estava em Berlim. Era um professor na universidade. Ouvi as mesmas palavras que ouvimos hoje. Mas então fui um idiota”. E ele continua: “Eu pensei que nazistas eram pessoas loucas, uns fanáticos estúpidos, quase inofensivos. Infelizmente não foi assim. Eles sabiam que não eram suficientemente fortes para conquistar um país unificado, então eles dividiram a Alemanha em pequenos grupos. Eles usaram o preconceito como uma arma prática para paralisar a nação”. E prossegue: “Claro que não foi fácil, eles tiveram que trabalhar duro para que isso acontecesse. Seres humanos não nasceram com preconceitos. Os preconceitos foram feitos por nós, por pessoas que sempre estão querendo alguma coisa”.
Toda essa introdução já era o suficiente para a história chegar até a Alemanha dos anos 1930, no florescer do nazismo. Mas o filme passa por uma breve história do surgimento do Partido Nazista na Alemanha. Nós vemos o movimento evoluir de um grupo de homens irritados nas ruas para uma organização paramilitar oficial do estado. Há uma montagem de crimes nazistas dentre outros: um dono de loja judeu é levado pelos policiais, um grupo de membros do sindicato é atacado e um professor da faculdade é preso depois de dizer aos alunos que não há base científica para a existência de uma “raça superior”.
O que torna o filme tão notável? Não é como se Don’t Be A Sucker encapsulasse a idade de ouro perdida do antirracismo americano. De fato, as contradições da década de 1940 são inseparáveis do filme. É bom lembrar que no mesmo ano de sua reedição surgia a Era Macartista, com seu Comitê de Atividades Antiamericanas, em 1947. E também, no ano de seu lançamento, em 1943, o governo americano manteve mais de 100 mil descendentes de japoneses em campo de concentração dentro dos Estados Unidos.
Ainda assim, Don’t Be A Sucker denuncia claramente de como o preconceito e o divisionismo podem alastrar o ódio por toda uma nação. E da necessidade de como construir uma comunidade diversificada nunca foi apenas uma aspiração idealista ou uma ocupação ética e moral, mas uma exigência da sobrevivência da democracia – o único remédio para o câncer que venha a se manifestar em todo e qualquer tipo de supremacia.
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