Por Donato, publicado no DCM –
Acostumados com a condição de celebridades e, portanto, preocupados com a perspectiva de verem-se longe dos holofotes em breve, os procuradores e o Ministério Público recorreram aos grupos de encomenda (também conhecidos como ‘espontâneos’) que encabeçaram as manifestações desde 2014 que resultaram nisso que estamos vivendo.
O MP quer ajuda desses grupos para aprovar as 10 Medidas de combate à corrupção. Mas cadê Movimento Brasil Livre, Vem pra Rua, Revoltados OnLine?
As medidas tramitam na Câmara como ‘projeto de iniciativa popular’, afinal haviam milhares de pessoas nas ruas implorando pelo fim da corrupção, porém esses grupelhos liderados por fedelhos estão tirando o corpo fora. MBL sobretudo. O indefinível Kim Kataguiri agora faz ressalvas às medidas.
“Isso não é democracia, é coisa de regime totalitário”, falou o porta-voz dos patriotas-democratas-idôneos. Ué, mudou de opinião?
Por óbvio não se trata de mudança de visão. Um dos objetivos já foi alcançado (sim, um deles pois a outra obssessão dessa turma é ver Lula na cadeia), agora é tocar a vida como sempre foi. Como disse o escritor italiano Giuseppe Tomasi di Lampedusa no romance O Leopardo, “para que as coisas permaneçam iguais, é preciso que tudo mude.”
Dilma Rousseff cairá por isso, para que tudo volte a ser como sempre foi.
A um passo do cadafalso, Dilma afirmou que irá ao Senado na segunda-feira dizer em alto e bom som que está indo para a forca por ter deixado a Lava Jato avançar. Mais verdadeiro, impossível. É disso mesmo que se trata, portanto a presidente estava condenada desde o primeiro dia.
E com a deposição de Dilma, qualquer operação ou medida de combate à corrupção perde impulso, para não dizer sentido. O que desejavam, já estará alcançado.
Vide Gilmar Mendes. Quando a Lava Jato mira em alguém do STF, ele estrila. Daí vê abusos, incoerências, injustiças. Quando os alvos eram outros, estava tudo certo.
E a suspensão da delação de Leo Pinheiro? A quem interessa engavetar o que ele tem a dizer? Claramente a todos aqueles que estavam morrendo de medo e incomodados com o andar da carruagem da Lava Jato desde os primeiros dias.
Se Dilma irá lavar a alma (dela e de muitos que têm esse golpe engasgado), a ver. A reação dos congressistas a quem diz a verdade não é nada boa. A senadora Gleisi Hoffman foi quase linchada após dizer uma verdade inquestionável: a de que ninguém ali no Senado tinha moral para julgar Dilma. Aliás, eu acrescentaria que não têm moral para julgar quem quer que seja. Aécio Neves, Ronaldo Caiado, Renan Calheiros… não têm moral nem para nada.
Passado o próximo dia 31, o MBL e outros desses ‘movimentos sociais’ de aluguel – que nunca revelaram de onde vem seus recursos – irão se dedicar às campanhas de seus integrantes que candidataram-se nas eleições municipais deste ano. Falar de combate à corrupção com eles a partir de agora é perda de tempo.