Henry Kissinger, ex-secretário de Estado dos EUA, morreu aos 100 anos na última quarta-feira (29), deixando um legado controverso por seu apoio a ditaduras na América do Sul e sua busca por transformar o Brasil em um aliado durante os anos 1970, período marcado pela Guerra Fria.
Por Yurick Luz, compartilhado de DCM
O livro “Kissinger e o Brasil”, escrito pelo professor Matias Spektor, revela a criação de canais secretos de comunicação entre Kissinger e o governo brasileiro. Esses canais estabeleceram uma política de consultas oficiais entre Brasil e EUA para mitigar conflitos, conforme pesquisa do autor.
Um memorando de 1974, proveniente do então diretor da CIA e enviado a Kissinger, expôs que o general Ernesto Geisel havia autorizado a execução de opositores durante seu mandato como presidente. Este documento, divulgado pelo governo norte-americano em 2018, menciona a permissão para métodos “extralegais” contra subversivos perigosos.
Tais execuções deveriam receber aprovação do general João Baptista Figueiredo, que sucedeu Geisel na presidência.
Em um encontro em fevereiro de 1976, realizado no Palácio do Planalto, Kissinger e Geisel concordaram que o processo de redemocratização no Brasil não poderia ser rápido. Kissinger assegurou: “Vocês não sofrerão pressão dos Estados Unidos”.
Vale destacar também que, durante os anos 1970, Henry Kissinger desafiou importantes figuras do Congresso, do Departamento de Estado e da Agência de Controle de Armas e Desarmamento dos EUA ao endossar o programa nuclear brasileiro.
Sua argumentação se baseou na visão de que o Brasil representava um dos alicerces da política norte-americana na América Latina, enfatizando a importância de apoiar o governo brasileiro para manter uma aliança robusta entre as nações.
Além disso, Kissinger destacou os interesses econômicos das empresas dos EUA na exploração da indústria nuclear brasileira, contribuindo para uma perspectiva de colaboração comercial e tecnológica entre os países.