Por Roberto Ferreira, jornalista, Facebook

Escrevi esse texto como comentário para a postagem de uma amiga que lamentava a falta de compaixão de algumas pessoas, mas resolvi compartilhar. Uma cena que nunca esquecerei. Não vou revelar o nome, pois o personagem em questão já morreu. Eu o considerava amigo, mas não conhecia o caráter dele.

Descobri quem ele realmente era numa tarde, na varanda da fazenda dele. Chegou um senhor humilde com um chapéu de palha na mão. Era um vizinho que tinha um pequeno sítio e algumas cabeças de gado.
Não foi convidado para subir na varanda.

Do terreiro explicou que o pouco pasto que tinha estava seco e praticamente implorou para deixar meia dúzia de vacas na fazenda do meu “amigo” para que elas não morressem. O meu “amigo” negou, alegando que também estava sem pasto. Era mentira.

O vizinho só faltou pedir desculpas pelo pedido e foi embora cabisbaixo.
Depois que ele tinha se afastado, o meu “amigo” disse que em menos de uma semana o vizinho voltaria pedindo para ele comprar as vacas.E, rindo, disse que ele compraria pelo valor que quisesse.

Detalhe; o meu “amigo” estava em tratamento de um câncer, que acabou por matá-lo. Nem a proximidade da morte foi capaz de fazê-lo ter compaixão pelo semelhante.

Nunca mais voltei à fazenda dele e, a partir daí, só consegui ter relações estritamente formais até ele morrer.

Não fui ao enterro dele. A “amizade” já tinha morrido naquela tarde.