Como noticiar suicídios

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MÍDIA

Editorial do programa Observatório da Imprensa na TV exibido pela TV Brasil em 2/9/2014

Esta história aconteceu há cerca de 40 anos no velho Jornal do Brasil da Avenida Rio Branco, no Rio de Janeiro. Certa tarde, o trânsito parou no centro. Os repórteres de polícia apuraram que, na Rua do Catete, uma pessoa ameaçava pular no último andar de um edifício. Chamaram os bombeiros, interditaram a rua, o trânsito parou no bairro da Glória e deu um nó em todo o resto. Pelo rádio de um dos carros da reportagem soubemos que o repórter Otávio Ribeiro, o celebrado Pena Branca, tinha chegado ao apartamento ao lado de onde estava o quase suicida e tentava demovê-lo. E conseguiu. Não demorou muito e o próprio Pena Branca entrava na Redação aplaudido pelos colegas. E antes que começasse a escrever a sua história, falamos com ele: não haveria história, apenas um registro de poucas linhas, sem fotos, com as iniciais no lugar do nome. Peninha salvara uma vida, agora cabia a nós, recuperá-la.




Jornais brasileiros sempre foram discretos ao noticiar suicídios e no caso de tentativa o JBera drástico – silêncio: ao quase suicida deve ser oferecida a chance de recuperação.

Depressão é a principal causa de suicídios. Depressão é doença, doença tem cura, porém quanto mais se fala em suicídios mais suicídios ocorrem. Então, o que fazer? Esquecer que no Brasil ocorrem 25 suicídios por dia? Silenciar sobre uma epidemia para qual não há vacina? Esta edição do Observatório deveria ter outro tema?

Não, de jeito nenhum: há uma vacina para a depressão: falar sobre ela, estimular o paciente a desabafar, aliviar aquela tremenda tristeza sem motivo. O deprimido precisa de apoio, de preferência de apoio médico. Este é o papel de uma imprensa responsável e solidária: ajudar a prevenir a depressão. Por esta razão é que a Organização Mundial de Saúde designou o próximo dia 10 de setembro como Dia Internacional da Prevenção do Suicídio.

O repórter Pena Branca compreendeu que em certos momentos a discrição da imprensa pode ser mais importante do que o barulho. (Alberto Dines)

A mídia na semana

>> O racismo nos estádios desta vez levou uma goleada.A reação às ofensas de torcedores do Grêmio contra o goleiro Aranha, do Santos, foi imediata e firme. Dois dias depois o país inteiro descobriu horrorizado que entre os cinco agressores estava uma mulher, fanática gremistae funcionária terceirizada da Brigada Militar gaúcha. Foi afastada e será processada junto com os demais truculentos. Enquanto isso, a mídia inteira acha bacana chamar os estrangeiros de “gringos”. Esquecem que a expressão é xenófoba, discriminatória, intolerante, mas está na moda. De moda em moda, o racismo se enraíza e prospera.

>> No Equador a censura à imprensa tornou-se obsoleta. O presidente Rafael Correa inventou uma técnica muito sofisticada para controlar os jornais: impõe um rigoroso boicote econômico, as empresas tornam-se inadimplentes e, em seguida, são liquidadas e absorvidas pelo governo. A mais recente vítima do sistema foi o jornal Hoy, um dos mais importantes do Equador, que, diante das dificuldades, primeiro desistiu de ser diário, tentou manter a edição digital e uma semanal impressa, e há uma semana sofreu o golpe de morte: a intervenção do governo.O semanário investigativo Vanguardia foi a primeira vítima, seguiu-se o jornal de economia Meridiano, sobraram apenas três grandes jornais. O presidente Rafael Correa estudou economia nos Estados Unidos e Suíça mas aprendeu a lidar com a imprensa em outras paragens.

>> O Brasil já não é mais o país do futebol, agora é o país do autoengano. Quem afirmou isso foi o jornalista Juca Kfouri em seu artigo na Folha de S.Paulo ontem [segunda, 1/9], com base na mais recente pesquisa Lance!-Ibope. O mais importante diário esportivo brasileiro descobriuque 23,4% de brasileiros não se interessam por futebol, contingente superior à torcida do flamengo, a maior do país. No Brasil, a assistência média dos jogos é de 15 mil torcedores – na Alemanha são 45 mil, nos Estados Unidos que só recentemente descobriu o soccer, a média é de 20 mil. Na Argentina o futebol goza de mais estima do que no Brasil; lá, a maior torcida é do Boca Juniors, seguidapelo River Plate. Depois, em terceiro lugar, estão os antifutebolistas. O vexame do 7 a 1 já tem explicação: o autoengano.

 Assista aqui ao vídeo como a íntegra do programa.

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