Como o autor de ‘Lavoura Arcaica’ ajudou Lula a fundar uma universidade em região antes dominada por nazistas

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Presidente celebrou os 10 anos do campus Lagoa do Sino da UFSCar ao lado do consagrado escritor Raduan Nassar

Por Ivan Longo, compartilhado de Fórum




Lula e o escritor Raduan Nassar no campus Lagoa do Sino da UFSCar.Créditos: Ricardo Stuckert

Desde seu primeiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criou 14 novas universidades federais no Brasil. Todas elas têm sua importância, mas a expansão de uma instituição em específico carrega uma história especial: a criação do campus Lagoa do Sino da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em Buri, no interior de São Paulo. 

Nesta terça-feira (23), Lula participou da cerimônia de comemoração dos dez anos do campus Lagoa do Sino da UFSCar ao lado do consagrado escritor Raduan Nassar, autor de obras célebres como “Lavoura Arcaica” “Um Copo de Cólera”. Durante o evento, o presidente anunciou um investimento de R$ 79,3 para a UFSCar, sendo que R$ 13 milhões serão destinados a melhorias no campus Lagoa do Sino.

Hoje com 88 anos, Raduan Nassar doou sua fazenda de 643 hectares em 2011 para que o campus fosse construído. Em 2014, então, durante o governo de Dilma Rousseff, a expansão da universidade foi inaugurada com cursos para atender às demandas da população local, focados em agricultura familiar, segurança alimentar e desenvolvimento territorial.

“Numa tarde, tive o prazer de receber uma ligação do Raduan Nassar, que queria fazer a doação do terreno que, anos depois, se tornaria o Campus Lagoa do Sino da UFSCar. Uma fazenda de 640 hectares que receberia cursos da área agrícola. E estou aqui em homenagem a este importante homem do nosso país”, afirmou Lula durante a cerimônia. 

“Quando aparece um homem que, aos 75 anos de idade, naquela época, assume a vontade e a responsabilidade de se desfazer de um patrimônio dele, como esse aqui, para que a gente pudesse formar milhares e milhares de meninas e meninos nesse país, para ajudar o país a se transformar num país grande, num país importante, num país competitivo, a gente só tem que dizer graças a Deus, Raduan, Deus te pôs no mundo e você está colocando essa dádiva que Deus te deu para o futuro desse país”, prosseguiu o presidente. 

Lula e Raduan Nassar na cerimônia de comemoração dos 10 anos do campus Lagoa do Sino da UFSCar (Foto: Ricardo Stuckert)

Raduan Nassar nasceu em Pindorama, no interior paulista, e estreou na literatura em 1975 com seu famoso livro “Lavoura Arcaica”. Depois, emplacou outra obra-prima, “Um Copo de Cólera”, em 1978. Ambos foram adaptados para a TV e o cinema e, apesar de ter publicado apenas três romances, o escritor possui reconhecimento internacional e, em 2016, recebeu o Prêmio Camões, o mais importante prêmio literário da língua portuguesa.

Mais de 600 estudantes se formaram ao longo dos dez anos do campus Lagoa do Sino da UFSCar. Os três primeiros cursos de graduação no local foram engenharias agronômica, ambiental e de alimentos. Em 2016, foram inaugurados os cursos de administração e de ciências biológicas, sendo que hoje o campus oferece também programas de pós-graduação em conservação da fauna e conservação e sustentabilidade.

“O sonho concretizado pode ser visto nas transformações que já identificamos a partir de cada estudante que passa por aqui, se forma, tem a sua vida transformada, muda o curso da história da sua família, e segue assim mudando o mundo”, disse a reitora da UFSCar Ana Beatriz de Oliveira. 

Vista aérea do campus Lagoa do Sino da UFSCar (Foto: Ricardo Stuckert)

Educação onde antes já foi lugar de nazismo e trabalho escravo

Outro aspecto que traz ainda mais significado para o campus Lagoa do Sino da UFSCar é o fato de que as fazendas da região, no passado, já pertenceram a empresários ligados ao nazismo e ao integralismo. Além disso, em uma dessas áreas rurais, entre 1932 e 1941, 50 meninos negros, órfãos do Rio de Janeiro, foram submetidos a trabalho escravo

Esse passado foi rememorado pelo estudante de engenharia agrônoma da UFSCar Murilo Piccoli durante a cerimônia desta terça-feira (23) em Buri. 

“É com orgulho que eu digo que um lugar que já foi senzala, hoje é uma universidade pública. As políticas de ações afirmativas pintaram a universidade de povo, permitindo que hoje possamos dialogar e aprender com estudantes negros, indígenas, LGBTQIA+, PCDs, quilombolas, estrangeiros e advindos do ensino básico público”, declarou. 

O historiador Sidney Aguilar Filho, autor de uma pesquisa sobre a história dos nazistas e dos meninos escravizados na região e que deu origem ao livro “Entre Integralistas e Nazistas: Racismo, Educação e Autoritarismo no Sertão de São Paulo”, também esteve presente na cerimônia e presenteou Lula com um exemplar da obra. 

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