Trabalhadores denunciam: conselho indicado no governo Bolsonaro tenta travar posse da nova diretoria da empresa pública. A serviço do ruralismo, ele busca impedir que pesquisas e desenvolvimento agropecuário sirvam ao resgate do Brasil
Por Nota Coletiva, compartilhado de Outras Palavras
Publicado 19/05/2023 às 14:16 – Atualizado 20/05/2023 às 12:20
Nota coletiva
No século XXI, a ultradireita ainda considera a democracia um obstáculo à transformação das instituições públicas, impedindo a reestruturação das sociedades para que continuem a servir ao mercado global exclusivamente para o lucro, a curto prazo e a qualquer custo. Para isso, cooptaram setores, como o agronegócio expansionista (que exige desmatamento), e capturam instituições públicas, como a Embrapa. Parte do agronegócio foi cooptado para ampliar a exportação de commodities, inclusive na Amazônia, com sistemas de produção intensivos de capital, mecanização, irrigação, transgênicos, agrotóxicos e fertilizantes químicos. Para continuar privilegiado pelo Governo Federal, no período 2019-2022, o agronegócio financiou massivamente a tentativa de reeleição do então presidente. A função social da Embrapa foi reduzida ao mínimo necessário para evitar uma crise de legitimação do papel da instituição.
A captura da Embrapa visa excluir a agricultura familiar do acesso a políticas e recursos públicos, assim como reordenar a tecnociência agropecuária pública para servir exclusivamente ao agronegócio de commodities. Para salvar as aparências, as últimas Diretorias iniciaram pseudos processos de reestruturação para fingir que as mudanças têm base na moderna ciência do management. Esses processos têm como características comuns a indigência epistêmica de sua concepção, o autoritarismo de sua implementação e a falta de aderência com a complexidade, diversidade e diferenças territoriais do país. Transforma Embrapa é o nome fantasia do mais recente embuste gerencial inventado pelo último presidente para o desmantelamento seletivo da capacidade institucional e a privatização indireta da atividade de pesquisa. Hoje, isso pode piorar.
O presidente Lula configurou seus ministérios de tal forma que a matriz institucional federal entrasse em sintonia com as diretrizes de seu governo, como agricultura familiar, agrobiodiversidade, soberania alimentar e combate a fome. Como a nomeação da nova Diretoria não ocorreu logo depois da posse do ministro do MAPA, a ultradireita incrustada na instituição articulou-se com o Consad (Conselho de Administração da Embrapa) para inviabilizar a nomeação dos candidatos a Diretores, visando a manutenção do status quo na tecnociência agropecuária pública.
Estão tentando manipular a seleção dos candidatos e mobilizar porta-vozes do agronegócio para legitimarem o serviço sujo do Consad, como o fez Xico Graziano e a deputada federal Adriana Ventura (Partido Novo) que se manifestaram endossando um texto apócrifo, panfletário e criminoso. Usando fake news e com ranço machista, o documento tenta desqualificar, difamar e destruir reputações de candidatos a Diretores por estarem alinhados às diretrizes do governo.
Bolsonaristas na Embrapa e no Consad temem a nova Diretoria!
Pela primeira vez, a Presidência da instituição é ocupada por uma pesquisadora, e duas mulheres mais são candidatas a Diretoras. O currículo de quaisquer deles supera os currículos dos Diretores, que atuaram como donos da Embrapa transformando-a num balcão de negócios, mercantilizando resultados de pesquisa. Traindo a dimensão tecnocientífica da instituição, essa Diretoria cortou radicalmente os recursos para PD&I. Em 2018, foram aplicados R$ 88 milhões; em 2019, R$ 83; em 2020, R$ 32; em 2021, R$ 54; em 2022, R$14 milhões. Em comparação com os governos Lula e Dilma, percebe-se a redução acentuada nos recursos de pesquisa da Embrapa. O montante de 2022 representa menos de 18% do valor aplicado em 2012, por exemplo.
Contrário às diretrizes do governo, o Consad reduziu a seleção dos candidatos a uma prática de assédio moral, com um modus operandi análogo ao de um Tribunal de Exceção para controlar o resultado do processo; já deveria ter sido substituído. Do contrário, a sociedade perderá as contribuições da mais qualificada instituição científica pública do mundo agrícola tropical.
Uma instituição que deve trabalhar de forma plural, para todos os segmentos da Agricultura e da Sociedade Brasileira. Será que o presidente, o ministro da Justiça e o ministro do STF sabem que o 08/01/23 ainda não acabou? Recém bateu à porta da Embrapa e ameaça mantê-la sem aderência às diretrizes do governo.
A quem interessa abortar a reconstrução de uma pesquisa agropecuária pública, democrática e inclusiva, para apoiar o presidente Lula no resgate do Brasil?