Bolsonaro mudou de posição no meio do percurso, fazendo com que aliados ficassem perdidos, e chegou a prometer Forças Armadas para proteger Roberto Jefferson, mas depois os traiu
Compartilhado de Brasil 247
247 – O episódio Roberto Jefferson desnorteou a campanha de Jair Bolsonaro nas redes a uma semana do segundo turno das eleições. Figuras importantes do bolsonarismo, como Allan dos Santos e Paulo Figueiredo Filho, já deram declarações públicas revelando um racha.
Segundo análise publicada na coluna Sonar – A escuta das redes, no Globo, levantamento mostrou que bolsonaristas ficaram desorientados: “Houve críticas à ação violenta, realizada contra policiais, grupo próximo ao bolsonarismo, mas também um recálculo de rota usando o episódio para se queixar de ‘censura’, tema que vem dominando o debate nas redes na última semana”.
A mudança de postura do candidato à reeleição e líder do grupo foi o primeiro motivo para isso: em sua primeira declaração sobre o caso, Bolsonaro, apesar de criticar a reação de Roberto Jefferson contra policiais federais com tiros e granada e suas declarações contra Cármen Lúcia, também criticou sua prisão, citando “inquéritos sem nenhum respaldo na Constituição” – o que não é verdadeiro. No entanto, a segunda declaração de Bolsonaro tenta descolar sua imagem da do aliado, chamando-o de “bandido”.
Em um fio no Twitter, Felipe Neto lembrou que Bolsonaro garantiu a alguns apoiadores, como Otoni de Paula, que mandaria as Forças Armadas para proteger Roberto Jefferson. “A tarde toda, seus maiores apoiadores defenderam Roberto Jefferson, incluindo os ‘jovem pan’ e o chupetinha”, escreveu o Youtuber, em referência ao deputado eleito Nikolas Ferreira. “Isso foi celebrado pelo núcleo de apoio bolsonarista, visto como uma ‘medida de resistência’”, escreve Felipe.
A confusão foi certa uma vez que o principal discurso do bolsonarismo nesta campanha tem sido o ataque às instituições, especialmente STF, TSE e pessoalmente o ministro Alexandre de Moraes. Quando viu que o episódio poderia prejudicar sua campanha, Bolsonaro não hesitou em também se adaptar a um novo discurso, chegando a dizer até que não tinha nenhuma foto com o ex-deputado – sendo desmentido em seguida nas redes sociais e na imprensa.
“Por que o presidente Bolsonaro está agindo de forma mais crítica ao Roberto Jefferson do que com o Alexandre de Moraes, causador de roda essa confusão lamentável e desnecessária?”, indagou Paulo Figueiredo Filho, comentarista da Jovem Pan. “Parabéns Alexandre de Moraes, Bolsonaro faz o que você quer”, ironizou Allan dos Santos em um vídeo.
Na avaliação da jornalista Maria Cristina Fernandes, do Valor Econômico, o tempo curto entre o episódio e o segundo turno favorece a campanha de Lula. “Tem potencial até para tirar votos de Bolsonaro. E não apenas do presidente-candidato. Até Haddad ganha uma chance de reverter sua desvantagem. Não apenas porque seu adversário, Tarcísio de Freitas, que lidera a disputa, cometeu o mesmo erro de Bolsonaro mas porque, em campanhas eleitorais paulistas, a integridade da força policial é cláusula pétrea”, acredita.