Como o poeta perdoava os inimigos

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No fim do ano a gente recebe um monte de mensagens de amigos, desejando boas festas e que o ano que se inicia em seguida seja repleto de felicidade.

Por Mouzar Benedito, compartilhado de Construir Resistência




Antes de existir a internet e o celular, recebíamos cartões de Natal. Agora, ficou mais fácil e muitíssimo mais barato espalhar mensagens pra todo mundo, o que é muito bom, mas, com essa facilidade toda, até aquelas pessoas que nos sacanearam o ano inteiro assumem um ar natalino e procuram mostrar que são amigas que só querem o nosso bem.

Quer dizer… nem todo mundo. Pessoas que antes apenas tinham pensamentos políticos diferentes dos nossos se revelaram inimigas nesses tempos de repletos de bolsonarinhos, e querem que a gente morra de uma forma muito sofrida.

Lembrei-me então de um poeta alemão, socialista, que viveu entre 1797 e 1856, boa parte desse tempo exilado em Paris, onde conheceu Karl Marx, e foi influenciado por ele.

Esse poeta chamava-se Heinrich Heine, e ele teve grande importância para a cultura brasileira. Foi lido e admirado por Machado de Assis, Raul Pompeia, Gonçalves Dias, Fagundes Varela, Manuel Bandeira e muitos outros escritores nossos. E, mais do que isso, fez um poema no início dos anos 1850 que influenciou Castro Alves para escrever Navio Negreiro, poema bonito e importante, contra o tráfico de pessoas escravizadas.

O poema escrito por Heine falava sobre a situação de prisioneiros de um navio negreiro aportado no Rio de Janeiro.

Bom, Heine, embora de esquerda, se relacionava com os inimigos de um jeito parecido com o dos bolsonaristas.

Aí vai um texto dele falando disso:

“Minha disposição é a mais pacífica. Os meus desejos são: uma humilde cabana com um teto de palha, mas boa cama, boa comida, o leite e a manteiga mais frescos, flores na minha janela e algumas belas árvores em frente à minha porta; e, se Deus quiser tornar completa a minha felicidade, me concederá a alegria de ver 6 ou 7 dos meus inimigos enforcados nessas árvores.

Depois da morte deles, eu, tocado em meu coração, lhes perdoarei todo o mal que em vida me fizeram. Deve-se, é verdade, perdoar os inimigos – mas não antes de terem sido enforcados”.

Mouzar Benedito é escritor, geógrafo e contador de causos.

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