Como o Twitter deixou campanha de difamação contra jornalista da Folha se espalhar

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Por Tatiana Farah e Graciliano Rocha, compartilhado de BuzzFeed

O Twitter tem dito publicamente que sua prioridade é criar “conversas saudáveis”, mas nos Estados Unidos e no Brasil o princípio tem colidido com os presidentes e seus apoiadores que usam a plataforma para atacar críticos – e o Twitter tem se recusado a desafiá-los.

O Twitter está ignorando apelos para frear a campanha de difamação contra a jornalista da Folha de S. Paulo Patrícia Campos Mello e derrubar posts com ofensas de cunho sexual em sua plataforma.




Desde quarta-feira (12), milhares de posts difamatórios estão sendo espalhados principalmente por perfis de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. O próprio deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, ecoou mentiras sobre a repórter no seu Twitter.

Embora alguns memes com ofensas de caráter sexual tenham obtido milhares de interações, o Twitter disse apenas que “já foram tomadas medidas sobre alguns tweets [sic] e contas que violaram essas regras.”

O Twitter tem dito publicamente que sua prioridade é criar “conversas saudáveis”, mas nos Estados Unidos e no Brasil o princípio tem colidido com os poderosos chefes de Estado que usam a plataforma para atacar críticos – e o Twitter tem se recusado a desafiá-los.

Um dos casos de vista grossa é atuação de Allan dos Santos, dono do site de extrema-direita Terça Livre. Num tuíte publicado às 8h03 de quarta dia 12, o militante bolsonarista publicou o meme com uma imagem de prostituta, relacionando-o à jornalista da Folha de S.Paulo.

Na noite de sexta-feira (14), o insulto de caráter sexual continuava no ar com mais de 1.300 retuítes e 6.000 curtidas. O BuzzFeed News não reproduz a imagem aqui por conta do seu caráter degradante.

Num outro post, o influencer bolsonarista instou seguidores a postarem memes contra a jornalista. A resposta veio em forma de centenas de imagens e mensagens insultando a repórter.

Casos similares proliferaram aos milhares desde a noite de terça (11), após Hans River do Rio Nascimento ter mentido à CPI mista das Fake News na terça, fazendo insultos de cunho sexual à repórter do jornal. O BuzzFeed News apurou disse que a Folha de S.Paulo está estudando medidas judiciais contra pessoas que ofenderam a repórter.

Patrícia Campos Mello é a jornalista que escreveu, em outubro de 2018, que empresários pagavam por disparos de WhatsApp para favorecer o então candidato Jair Bolsonaro. Hans River é ex-funcionário da empresa Yacows, uma das disparadoras de mensagens.

Logo depois do depoimento, a repórter divulgou as mensagens de WhatsApp que trocou com Hans, que desmontaram a versão do ex-funcionário à comissão, mostrando que foi ele, na verdade, quem a assediou. Mentir em depoimento à CPI é crime.

A onda de difamação ganhou corpo com o deputado Eduardo Bolsonaro ecoou as mentiras de Hans River no Twitter e na tribuna da Câmara.

Reportagem do site The Intercept Brasil desta sexta afirma que os números dos celulares de Eduardo e de seu irmão, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), integram grupos de WhatsApp que espalham ataques contra a jornalista.

Houve uma onda de repúdio generalizado e de defesa da jornalista, que incluiu do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), a entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil.

Nesta sexta-feira (14), um abaixo-assinado iniciado por um grupo chamado Mulheres Jornalistas Contra o Assédio reuniu, em três horas, mais de 500 assinaturas de jornalistas cobrando providências do Twitter.

Além de tratar do caso específico de Patrícia Campos Mello, as signatárias do documento cobram medidas da empresa contra ataques machistas. Algumas profissionais da imprensa passaram a relatar sua experiência com as denúncias sem resposta.

Aqui a íntegra da nota da rede social:

“O Twitter tem Regras que determinam os conteúdos e comportamentos permitidos na plataforma. Neste caso específico, já foram tomadas medidas sobre alguns Tweets e contas que violaram essas Regras, e há conteúdos que encontram-se em processo de revisão. O Twitter condena comportamentos que intimidem ou tentem silenciar vozes, e nosso trabalho para evitar que isso aconteça está em constante aprimoramento. Temos avançado em algumas frentes, como o uso de tecnologia para identificar proativamente conteúdos que violem nossas regras, mas sabemos que ainda há muito a ser feito.”

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