Como opera a indústria do “engajamento” fútil

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No desespero por relevância, celebridades simulam brigas, expõem faturas de compras grotescas e “vazam” nudes nas redes. Por trás disso, estão grandes agências publicitárias sedentas por divulgar marcas e estimular o tribunal do cancelamento

Por GGN, compartilhado de Outras Palavras




Por Carla Castanho, no GGN

Na indústria da influência, a principal responsável pelo impacto do que reproduzem os criadores de conteúdo e as páginas de fofoca é a empresa Mynd, que agencia mais de 400 influenciadores e distribui conteúdo em uma espécie de “pirâmide”. É o que mostra a reportagem do canal Spotniks [veja abaixo], que conta a história da agência de publicidade que controla as páginas mais engajadas da internet brasileira. 

“O pulo do gato da Mynd é a distribuição do conteúdo produzido pelos seus influenciadores em forma de pirâmide. O sucesso do casting permite que a agência promova as mesmas campanhas em diferentes páginas e perfis, uma estratégia que retroalimenta sua relevância e viraliza marcas, assuntos e influenciadores”, sendo assim, “tornam-se famosos por serem famosos”, mostra a reportagem.

O documentário, lançado duas semanas após as mortes de Jéssica Vitória e PC Siqueira, vítimas do “tribunal da internet”, mostra que o segmento da indústria de influência movimenta anualmente R$ 80 bilhões no mundo com um único objetivo: “chamar a sua atenção”. No caso dos influenciadores, isso ocorre através de posts sobre moda, comportamento e opinião política, mas principalmente, “embolsando dinheiro com a troca de likes e compartilhamentos”. Há ainda no ramo da fofoca uma “banca digital”, que cobra para falar de celebridades e tem o poder de elevar ou derrubar alguém na internet”.

A apresentadora do documentário, Daniela Guaraná, destaca que, no desespero pela relevância, os influenciadores são capazes de qualquer coisa, desde simular brigas, expor faturas de cartão de crédito com valores astronômicos, divulgar tatuagem em partes íntimas, a ensaios com roupas notoriamente ridículas.

A Mynd

A CEO da empresa é a também jornalista, psicóloga e empresária, Fátima Pissarra, que trabalha com a cantora Preta Gil, sócia-diretora da agência, e o publicitário Carlos Scappini, diretor de operações. Para se ter uma ideia do alcance, até a época da produção do documentário, a Mynd agenciava mais de 400 influenciadores, como Luisa Sonza, Cleo Pires, Deolane Bezerra, Pabllo Vittar, Esse Menino, Yasmin Brunet e Gil do Vigor. Já nas marcas de peso, a agência carrega os nomes dos maiores anunciantes do país, como Magazine Luiza, Americanas, Ambev, TV Globo, Amazon e C&A. 

Influenciadores são marcas valiosas 

As campanhas publicitárias são apenas uma linha da receita da agência, que também faz dinheiro através de um braço do grupo chamado House of Brands, focado em promover produtos físicos e digitais, como o perfume lançado em 2022, assinado em duas versões por Xamã e Luiza Sonza. 

“Na mão da Mynd esses influenciadores são mais do que apenas formadores de opinião, são marcas valiosas, com a ambição de atingir o IPO”, ilustra a reportagem do Spotniks.

A banca digital

Além das celebridades, a Mynd também promove alguns dos principais influenciadores do mundo da fofoca, que fazem parte da Banca Digital, a autointitulada “A forma perfeita da marca de fazer parte das conversas mais virais do momento”, composta por 35 perfis virtuais de entretenimento que totalizam 150 milhões de seguidores. 

“Quando os agenciados da Mynd publicam a mesma ação, ao mesmo tempo, passam a impressão de que toda a internet está falando a mesma coisa. Os seguidores entram com engajamento e o resto fica a cargo do algoritmo, que inundado de postagens sobre o mesmo assunto, vai distribuir ainda mais aquele conteúdo para fora da bolha, ou seja, é viral, mas artificial”. 

Um exemplo que ilustra pontualmente a forma como ocorre a “operação midiática” é a “Farofa da Gkay”, evento que comemora o aniversário da celebridade reunindo inúmeros famosos que contabilizam mais 334 milhões de seguidores, e que grande parte era da Mynd, como a própria Gkay.

O impacto foi tanto que além de ganhar um documentário, o evento foi posteriormente transmitido pelo Multishow. Segundo o Spotniks apurou, a edição que aconteceu em Fortaleza, no Ceará, passou dos R$ 8 milhões pagos por anunciantes de peso, como a Avon, Listerine, XP, Latam e Vivara. 

O mesmo processo acontece em festivais de música, compara a apresentadora do documentário, como Lollapalooza e Coachella e Rock in Rio, que contou com 100 agenciados da Mynd, “de diferentes nichos e perfis a 19 grandes marcas, da Coca-Cola ao Itaú”, sendo onze os músicos que se apresentaram no festival. 

“Comercialmente falando, o processo é simples: você paga, e o conteúdo é distribuído em várias páginas, como se fosse algo orgânico, eles conseguem definir quem vai virar assunto na internet, razão pela qual críticos acusam a agência de atuar como uma banca digital, que cobra para falar bem de celebridades e tem o poder de elevar ou derrubar alguém na internet”, diz a influenciadora Polly Oliveira.

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