Como será o amanhã?

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Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, para o Bem Blogado – 

O resultado do julgamento do recurso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no TRF 4 é conhecido. Política  é feita de fatos e não de torcida, gostemos ou não. A confirmação da sentença de Moro já está encomendada e contratada desde o início da Lava Jato. O que entrará em jogo a partir da farsa legal é como será o amanhã do dia 25 em diante.

Quase nada no Brasil pós golpe pode ser dito com certeza. Um fato qualquer tem a capacidade abalar a normalidade do quadro político, se é que se pode utilizar o parâmetro de normalidade em meio a tanta avacalhação.




A manobra para tirar Lula da disputa presidencial é uma das poucas coisas passíveis de serem cravadas. Fato consumado, haverá como o líder das pesquisas conseguir colocar sua foto na urna eletrônica?

Obviamente, seus advogados e o PT entrarão com recursos em todas as instâncias possíveis. Isso dará algum tempo no calendário, mas não nos iludamos. Assim como em todos os casos relevantes da Lava Jato que dependeram da toga, a tramitação e definição passam longe do critério jurídico.

O caso é político. E dentro da política só uma rua forte pode interromper a sequência de golpes. E isso, lamentavelmente, não está ocorrendo.

Lula só será candidato se um grandioso movimento de massas exigir sua participação no pleito. Nesse caso, a certeza jurídica de ocasião pela condenação pode sim ser modificada. Mas são poucos os sinais apontando que a defesa da legitimidade da candidatura do líder das pesquisas tenha a mesma força no asfalto daquela demonstrada nos levantamentos sobre intenção de voto. Parece paradoxal, mas não é.

Quem ler com atenção os detalhes das pesquisas, com suas estratificações, nota que a base do voto no petista está concentrada na camada mais pobre da população e, em especial, no Nordeste.

Não só, é claro, mas é ali que o bombardeio midiático incessante e diário não conseguiu ferir a imagem de Lula. É a gente que sentiu em seu cotidiano os efeitos das políticas inclusivas de dois governos. E hoje, para melhorar para Lula, compara suas administrações com a chacina de direitos promovida pela cleptocracia de Temer.

Falamos aqui da base social do lulismo, que é bem maior do que a do petismo hoje. São cidadãos que admiram e querem a volta de Lula, mas são desorganizados politicamente. Estão espalhados pelo Brasil, lutando diária e literalmente pela sobrevivência.

Não têm o poder e a capacidade de mobilização, mesmo majoritários numericamente, que, por exemplo, a classe média cheirosa que lotou a Paulista pedindo o golpe. E tende a ser mais uma vez desprezada, mesmo maioria. É mais um degrau da cidadania que o Brasil nega a seus milhões de pobres.

Não há, repita-se lamentavelmente, sinal de que essa imensa maioria de vítimas da chacina social sairá às ruas para defender seu candidato. Haverá, com certeza, manifestação expressiva no dia 24 de setores organizados em torno do petismo, com a adesão também da maior parte das esquerdas que sabem o que está em jogo.

Assim como ocorreu na luta contra o golpe, porém, só terão resultado efetivo se o movimento for contínuo e ganhar o apoio do grosso do eleitorado lulista. Como? Se a receita fosse fácil a situação não chegaria ao ponto atual.

O direito de o único líder do campo popular disputar uma eleição não deve ser objeto de renúncia, por maiores que sejam as dificuldades.

Devemos ter claro, por ordem de importância, que eleição sem Lula não é legítima e, depois, saber que a foto do barbudo na cabine só será possível se a calmaria de hoje for substituída por um movimento forte e politicamente organizado.

Nunca foi fácil para as esquerdas e não será diferente agora.

 

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