Por Celso Sabadin, Facebook
Quem foi melhor? Pelé ou Ayrton Senna? Quem compunha melhor? John Lennon ou Mozart? Está achando estas comparações absurdas? Pois são mesmo. Comparar Senna com Pelé – ainda que ambos tenham sido esportistas – e Mozart com Lennon – ainda que ambos tenham sido músicos e compositores – é tão descabido quanto comparar, digamos, “Moonlight” e “La La Land”. Ainda que ambos sejam filmes.
Já escrevi várias vezes aqui o quanto sou contra competições no mundo artístico. Filmes, livros, músicas, espetáculos não devem ser comparados entre si, mas curtidos, aproveitados, sentidos, amados, vividos. Competições caem bem no mundo esportivo, onde se comparam velocidades, forças, número de gols, alturas, cestas, pontos, números.
Reduzir uma obra cinematográfica ao número de prêmios que ela ganhou ou deixou de ganhar ou aos milhões de dólares que ela faturou é de uma simplificação patética.
Só o cinema norte-americano produz uma média de 500 longas por ano, o que significa um universo de, sei lá, mil ou dois mil atores/atrizes principais envolvidos, além de uns 3 mil coadjuvantes. Isso sem falar da produção britânica, australiana, irlandesa, e de todos os países de língua inglesa.
Alguém acha mesmo que é possível escolher um, e apenas um “melhor ator do ano” de todo este universo? Alguém acha mesmo que quem vota nestes prêmios assiste a pelo menos 1/3 destes filmes? É evidente que não.
Leio em algum lugar que o Festival de Cinema de Brasília deste ano estuda eliminar as premiações de melhor isso e melhor aquilo, optando por dividir o dinheiro do prêmio equanimente entre todos os selecionados. Seria uma decisão genial. Decisão, aliás, que já foi colocada em prática ano retrasado pelos próprios competidores, que dividiram tudo entre eles antes mesmo de serem revelados os vencedores.
Isso é arte. Isso é cinema. Isso é humano.
Vivemos tempos em que absolutamente tudo é transformado em competição. De alguma forma isso acirra os instintos mais animais de sobrevivência do ser humano, cria facções, amplia animosidades, transforma as questões mais banais do dia-a-dia em campos de batalha.
Se alguém declara que gosta de maçãs, logo surgem protestos ferozes da associação dos produtores de bananas. “Você quer acabar com as plantações de bananas? Quer desempregar os bananeiros? O que vc tem contra Carmem Miranda?” e por aí vai…
Daí para a declaração de guerra das frutas, com direito a melancias atiradas sobre as cabeças de todos, é um pequeno passo.
Dizem que tudo está se transformando em Fla-Flu. Discordo: tudo está se transformando em Gre-Nal, onde a competição é bem mais acirrada.
A grande pergunta é: a quem serve tudo isso? A quem está servindo esta grande fissura mundial, sem nuances, sem meios termos, com muito belicismo, com ânimos exaltados à flor da pele? Basta pensar: em toda a História da Humanidade, a quem servem as guerras? Ao homem comum é que não é. Ao povo, muito menos.
Pode-se argumentar que uma guerra é algo bem diferente de uma competição entre candidatos ao Oscar. Pode ser. Mas a manutenção deste pensamento polarizado, a criação e a instigação de facções, por menores que sejam, em toda e qualquer área do conhecimento humano, sempre são os melhores caminhos para o caos.
Afinal, vale lembrar que a radicalização do pensamento já gerou grandes tragédias para a Humanidade, como o Nazismo, o Capitalismo, e um Oscar de melhor Ator para Sylvester Stallone.