Comportamento da mídia revela racha na elite que promoveu o golpe

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Por Luiz Carlos Azenha em Viomundo – 

A constatação foi do Jornal do Brasil:  “Editoriais antagônicos de grandes jornais mostram que segmentos empresariais estão em confronto”.

Quem escreveu estava se referindo ao desembarque dos irmãos Marinho do golpe que derrubou Dilma Rousseff. No editorial de O Globo:

Esse jornal apoiou desde o primeiro instante o projeto reformista do presidente Michel Temer. Acreditou e acredita que, mais do que dele, o projeto é dos brasileiros, porque somente ele fará o Brasil encontrar o caminho do crescimento, fundamental para o bem estar de todos os brasileiros. As reformas são essenciais para conduzir o país para a estabilidade política, para a paz social e para o normal funcionamento de nossas instituições. Tal projeto fará o país chegar a 2018 maduro para fazer a escolha do futuro presidente do país num ambiente de normalidade política e econômica. Mas a crença nesse projeto não pode levar ao autoengano, à cegueira, a virar as costas para a verdade. Não pode levar ao desrespeito a princípios morais e éticos.

Já os paulistas do Estadão escreveram editoriais inacreditáveis. Primeiro, o Estadão, que é o rei dos vazamentos da Lava Jato, criticou vazamentos contra Temer:




Não é de hoje que há vazamentos desse tipo – e isso só pode ser feito por quem tem acesso privilegiado a documentos sigilosos. Ao longo de toda a Operação Lava Jato, tornou-se corriqueira a divulgação de trechos de depoimentos de delatores, usados como armas políticas por procuradores. O vazamento a conta-gotas das delações dos executivos da Odebrecht que envolvem quase todo o Congresso Nacional, mantendo o mundo político em pânico em meio a especulações sobre o completo teor dos depoimentos, foi um claro exemplo desse execrável método.

Depois, o Estadão, que apoiou o golpe contra Dilma sem crime de responsabilidade — exigência da Constituição — agora defende a Constituição:

Qualquer irresponsável que propuser ou defender uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que altere os termos do artigo 81 e institua eleições diretas em caso de vacância da Presidência e da Vice-Presidência a menos de dois anos do término do mandato estará propondo, na verdade, um golpe à ordem constitucional. Estará propondo, em última análise, um golpe contra a sociedade que se organizou em torno da Carta Magna em vigor, por meio de representantes legitimamente eleitos para um dos mais altos desígnios em um regime democrático.

A manchete da Folha, tratando como “inconclusivo” o áudio da conversa entre Temer e Joesley Batista sobre Cunha, desconhece o óbvio: o empresário da JBS narra a Temer que não tinha mais interlocução com Geddel Vieira Lima, ex-ministro, e o ocupante do Planalto não se mostra surpreso — ou seja, Temer sabia que Geddel era o intermediário entre o PMDB e os interesses da JBS — que incluiam a mesada ao doleiro Dilson Funaro e a Eduardo Cunha.

Temer diz “ótimo” quando Joesley narra as tentativas de barrar investigação contra ele.

Joesley conta a Temer sobre um procurador da Operação Greenfield que vaza informações. Temer não reage indignado.

Ou seja, a Folha focou no acessório para contaminar o principal.

Mais que isso, o jornal contratou seu próprio perito para dizer que o áudio foi editado. Há, sim, claras falhas no áudio. Mas a palavra “editado” dá ideia de manipulação, que só uma perícia oficial e independente poderia atestar.

Se o áudio tiver de fato sido editado, com supressão ou adição de trechos, então é sim o caso de demitir e processar o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, além de prender Joesley Batista.

Neste momento, está claro que os principais grupos de comunicação do Brasil estão em campos opostos. É Globo contra Folha+Estadão.

A elite paulista quer a continuidade do governo Temer e quer, de alguma forma, preservar o status quo, provavelmente com um candidato que una PMDB e PSDB em 2018.

Os irmãos Marinho claramente buscam detonar Temer já, em aliança com o MPF.

Curiosamente, por dois dias consecutivos o Jornal Nacional noticiou o caso do procurador da Operação Greenfield comprado por 50 mil mensais por Joesley Batista, Ângelo Goulart Villela, mas não mostrou a imagem dele.

Ângelo Goulart é aquele que foi ao Congresso fazer discurso em defesa das 10 Medidas Contra a Corrupção, campanha institucional do MPF.

Ele abre seu discurso cumprimentando “meu estimado amigo” Deltan Dallagnol, um dos homens-chave da Operação Lava Jato. Dallagnol assiste, da mesa (notem como, no discurso dele, Deltan fala como um pregador, inclusive usando parábolas).

O Jornal Nacional não apenas escondeu Ângelo Goulart, como não citou o telefonema de Aécio Neves ao ministro Gilmar Mendes ou a suspeita da PGR de que, além de Michel Temer e Aécio Neves, o hoje ministro do STF Alexandre de Moraes poderia ter trabalhado no sentido de direcionar as investigações da Lava Jato.

Ou seja, ao mesmo tempo em que os irmãos Marinho trabalham pela derrubada de Temer, não querem comprometer o MPF ou a Justiça.

Isso talvez seja uma forma de evitar embaraços aos negócios da própria emissora. Ou de bloquear a homologação de uma delação que a comprometa — a do ex-ministro Antonio Palocci, por exemplo.

Ou, ainda, de garantir que nenhuma investigação será feita sobre os próprios negócios da emissora, já que como denunciamos aqui uma herdeira de Roberto Marinho pagou as taxas de manutenção de três empresas offshore criadas pela Mossack & Fonseca no exterior. Os documentos sobre Paula Marinho, filha de um dos controladores do Grupo Globo, apreendidos pela Operação Lava Jato, pelo jeito foram engavetados…

De todos os grupos de comunicação do Brasil, só a Globo está representada — por Carlos Schroeder — no ‘Grupo do PIB’ montado para discutir o Brasil com a ministra Carmen Lúcia, que parece ser a candidata da emissora se houver uma eleição indireta no Congresso. Ela pode ser uma das “soluções” da Globo. Ou Henrique Meirelles, que ainda recentemente trabalhava… para Joesley Batista.

Curiosamente, no Jornal Nacional da sexta-feira a Globo “escondeu” as denúncias de Joesley Batista contra Lula e Dilma no meio do telejornal e, no dia anterior, deu ampla cobertura às manifestações de centrais sindicais e movimentos populares contra Temer. Ou seja, desta vez a Globo estimula as ruas contra o governo a partir de seus próprios interesses: desembarcar do golpe para sobreviver ao desastre Temer? Direcionar a sucessão? Governar com a PGR, Moro e o STF? Preservar-se de investigações? Tudo junto e misturado.

Sobre o muro, o PSDB foi pego em flagrante delito. A conversa de Aécio Neves com Joesley Batista deu mais um indício da existência de um acordão dissimulado, na linha da “profecia” feita por Romero Jucá, “com todo mundo”, para “estancar a sangria”. Por enquanto, os tucanos fecham com a Folha e o Estadão.

E o PT nessa? É significativo que João Doria, o mais popular dos tucanos neste momento, tenha dito que Lula deve sair candidato em 2018 — para ser derrotado. Mesmo que isso acontecer, Lula certamente terá uma votação significativa no primeiro turno, o PT formará uma bancada razoável no Congresso e tem até chance de eleger algum governador.

É plausível que um acordão genérico tenha unido PMDB, PSDB e PT.

O certo é que segue a guerra intestina das elites.

O Estadão acaba de denunciar que o ex-braço direito de Rodrigo Janot, Marcelo Miller, migrou do MPF para o escritório que tratou da delação premiada de Joesley Batista na véspera da conversa gravada entre o dono da JBS e Michel Temer.

Por outro lado, O Globo destaca, em comentário de seu porta-voz Merval Pereira:

Não há a menor possibilidade de se convocar uma eleição direta para o caso de substituição do presidente Michel Temer, a não ser que se quebrem todos os prazos regimentais de tramitação de uma proposta de emenda à Constituição (PEC), o que caracterizaria um golpe parlamentar. Nesta terça-feira chegará à Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, depois de tramitar por um ano, uma proposta de emenda constitucional (PEC) do deputado Miro Teixeira, que altera o artigo 81 da Constituição, prevendo eleições diretas no caso de vacância da Presidência da República, exceto nos seis últimos meses do mandato. A partir da aprovação na CCJ, o que não é certo, ela vai para uma Comissão Especial que tem que debater o tema por 40 sessões. Se tudo correr bem, sem obstruções durante a tramitação, ela estará aprovada lá pelo final de novembro. Até lá, a substituição do presidente Michel Temer terá que ser feita necessariamente por eleição indireta, como determina a Constituição Federal. O único caso em que seria possível convocar eleições diretas imediatamente seria o presidente Temer encurtar seu mandato por decisão própria, como fizeram os ex-presidentes Dutra e Sarney.

Ou seja, a Globo quer indiretas já depois de Temer ser cassado pelo TSE. Folha e Estadão militam pela permanência de Temer.

O que ainda une os barões da mídia é a oposição a uma eleição direta agora, que poderia alçar ao poder um projeto ou candidato que não os represente.

PS do Viomundo: Resposta do MPF à manchete do Gilmar… digo do Estadão:

Acerca de notícias veiculadas pela imprensa na manhã deste sábado, 20 de maio, a Procuradoria-Geral da República esclarece que o ex-procurador da República e hoje advogado Marcelo Miller não participou das negociações do acordo de colaboração premiada dos executivos do grupo J&F. 

Cabe lembrar que a colaboração premiada é celebrada entre Ministério Público e pessoas físicas acerca de condutas tipificadas no Código Penal. Já o acordo de leniência é celebrado com pessoas jurídicas (empresas), refere-se a infrações de natureza cível contra a ordem econômica é de atribuição de procuradores da República que atuam em primeiro grau.

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