Por José Carlos de Assis, Jornal GGN –
Alguém por acaso se lembra do bombardeio franco-britânico em nome da OTAN – leia-se, os Estados Unidos da América -, contra a Líbia de Muammar Kadafi? Alguém se lembra da exaltação quase histérica com que a então secretária de Estado americana, Hillary Clinton, saudou a derrabada e o assassinato de Kadafi (viemos, vimos e vencemos)? Alguém se deu conta de que a guerra civil síria é uma encomenda norte-americana para mudar o regime do país a qualquer custo, a fim de debilitar o inimigo principal, a Rússia?
A maioria das pessoas, na verdade, se esqueceu da chamada Primavera Árabe e do que representou para o Oriente Médio e a África. Muitos se deixaram embalar ingenuamente pela percepção de que se tratava de um genuíno movimento democrático árabe. Só os mais informados – a saber, os informados pela imprensas não ocidental – perceberam que se tratava de um jogo geopolítico norte-americano, operado por muitas das ONGs privadas que manipulam populações mundo a fora em favor do neoliberalismo e da geopolítica americana.
Podia citar outras situações, em especial o Iemen se o Egito. Basta. Um mínimo de senso comum leva à conclusão de que levas de refugiados buscando a Europa é o legado da Primavera Árabe patrocinada pelos Estados Unidos diretamente, com auxílio de aliados como França, Inglaterra e Espanha, ou indiretamente mediante ONGs intervencionistas do tipo do Fundo articulado por George Soros que operou o golpe nazista na Ucrânia – e que tem um braço no Brasil através da Armínio Fraga, estimulador doa arroubos golpistas de Aécio Neves.
Ninguém vá duvidar que o drama dos refugiados africanos e do Oriente Médio constitui uma tragédia humanitária em larga escala. Mas não venham dizer que surgiu espontaneamente das lutas intestinas naquelas regiões. Foi, sim, o produto da busca norte-americana por uma supremacia militar e política absoluta em todos os cantos do mundo seguindo a orientação de uma geopolítica assassina, capaz de destruir tudo que esteja em seu caminho, mesmo não representando perigo real.
O maior número de refugiados em busca da Europa são procedentes da Líbia e da Síria. Não tenho visto nenhum grande jornal ocidental, e sobretudo norte-americano, apontando as causas fundamentais do fenômeno. Parece que os líbios simplesmente fogem de mais de 200 milícias que tomam conta do país a ferro e fogo no rastro dos bombardeios ocidentais, pouco importando que a existência dessas milícias é justamente o resultado da derrubada de Kadafi pelas forças da OTAN sob patrocínio norte-americano.
A Síria também teria sido destruída como Estado, a exemplo da Líbia, não fora a ajuda russa ao regime de Assad. É curioso que o presidente Assad é chamado de ditador pela imprensa ocidental com a mais deslavada hipocrisia em relação ao que pragmaticamente são os líderes árabes, notadamente os sauditas e os chefes de emirados, nenhum deles cabendo no figurino democrático. De qualquer modo, são os norte-americanos que estão por trás dos rebeldes sírios, sendo o fator principal de geração de refugiados.
Em síntese, a crise dos refugiados que buscam a Europa é a culpa máxima dos próprios europeus por atuarem militarmente como vassalos dos Estados Unidos desestabilizando os países de origem deles. Não haverá solução exceto a paz e algum compromisso de ajuda ao desenvolvimento dos países afetados. Não é da tradição norte-americana fazer isso. A tragédia portanto tende a continuar. Mesmo porque, desde o Plano Marshall, os Estados Unidos concentraram sua política externa em destruir, e não em construir.
A foto da capa é do fotógrafo australiano Warren Richardson, ganhadora do premio World Press Photo