Para o humorista, o problema está na cegueira do Ocidente e no falso marketing de uma terra sem povo, que já era ocupada pelos palestinos
Por Carla Castanho, compartilhado de Jornal GGN
O humorista e cirurgião egípcio Bassem Youssef viralizou ao protagonizar mais um episódio em que nos faz refletir sobre o que acontece no Oriente Médio, e principalmente em Gaza. Em entrevista concedida ao apresentador britânico Piers Morgan, Youssef inicia a análise pontuando a inutilidade do debate centrado na condenação de Israel ou Hamas.
Segundo ele, mesmo que as condenações ocorram, isso não irá resolver o problema da guerra. “Condenar o Hamas ou Israel? Completamente inútil. Eu condeno o Hamas e você Israel, a entrevista acaba e o que acontece? Nada. É apenas um ponto de controle da moralidade”.
A visão e o radicalismo do ocidente
O controle da moralidade a que Youssef se refere está no ciclo vicioso alimentado pelo radicalismo do ocidente, que enxerga apenas o que lhe convém, conforme a situação se agrava. É preciso olhar para a história e ver que “o problema não é um problema judeu, não é um problema do Oriente Médio, não é um problema árabe, é um problema europeu”.
“O que é que o público ocidental vê? Vê pessoas regozijarem-se com a morte de civis em Israel. Foi isto que os árabes viram durante anos. Por exemplo, se procurarmos ‘Sderot Cinema’, isto foi em 2014, quando Israel esteve a bombardear Gaza como habitual, e os israelitas em Sderot, nos kibbutz ou nos Colonatos, foram para uma colina e tinham pipocas e bebidas para ver o espetáculo, e aplaudiam cada míssil que caía [em Gaza]”, argumenta.
Olhar para a história
Youssef pauta o século XIX, onde haviam os judeus orientais na Ucrânia e na Rússia, e os judeus ocidentais na Europa. À época, os judeus do leste tiveram de emigrar e foram expulsos.
“E a certa altura, as pessoas no Ocidente, especialmente na Inglaterra [disseram] ‘temos demasiados judeus, precisamos de uma solução’. Uma solução para que? ‘Para o problema judaico’. Como se precisássemos nos livrar deles. E acabaram por dizer ‘muito bem, vamos para a Palestina’”, acrescenta.
Quando chegaram à Palestina, já em 1914, 700.000 pessoas viviam ali, 3% das quais eram judias. Youssef rememora a declaração do então ministro britânico das Relações Exteriores, Arthur Balfour, que chamou o povo judeu na Inglaterra de raça estranha e hostil, em 1917. “O único membro do parlamento inglês que os designou como cidadãos britânicos foi o Lord Montagu”, aponta Youssef.
“Então, empurraram-no [povo judeu], mas não estava a ir suficientemente depressa, e vieram os nazis, e, nessa altura, já não se tratava de uma solução. Era a última solução, a solução final de Hitler, porque precisava de uma resposta para a questão judaica, a ‘Judenfrage’. E depois como vêem, aconteceu o Holocausto. O genocídio mais orquestrado, industrializado e horrível dos nossos tempos moderno, morreram 6 milhões de judeus”.
Assim que a situação se alarmou, relembra o entrevistado, os judeus deixaram o Leste Europeu e foram para a Europa Ocidental e América, depois de acusados, seguiram para a Palestina. Então, em 1948, mesmo antes da declaração de Israel, viviam ali 2 milhões de pessoas. “Apenas 30% deles eram judeus. Então toda a ideia de uma terra sem povo, um povo sem terra era marketing, já haviam os palestinos”, refuta Youssef.
“Bem, ponha-se do lado árabe, em 1948 constituíam 70% da população, e de repente, a ONU dá-vos 48% da terra. E esta é uma questão muito importante, porque na mente do público ocidental, eles sempre pensaram na resistência palestiniana, ou o lado palestino como militante, islâmico”. complementa.
Assista a entrevista completa pelo link abaixo: